Tirzepatide semanal é eficaz no tratamento da obesidade

 

 

Pergunta clínica: Em pacientes com obesidade, a administração semanal de tirzepatide leva a redução de peso, comparativamente ao placebo?

População:  pacientes adultos com obesidade
Intervenção:  injeção subcutânea semanal de tirzepatide por 72 semanas (grupos com doses de 5 mg, 10 mg e 15 mg)
Comparação: placebo
Outcome (primário): proporção da perda de peso

Desenho do estudo: Ensaio clínico aleatorizado controlado, de fase 3. Foram incluídos indivíduos adultos com um índice de massa corporal (IMC) superior a 30kg/m2 ou superior a 27 e, pelo menos, uma comorbilidade relacionada com o excesso de peso, como hipertensão, apneia obstrutiva do sono, doença cardiovascular ou dislipidemia. Foram excluídos indivíduos com diabetes. Os marcadores (endpoints) primários foram a percentagem de perda de peso e o alcance de uma redução de peso superior ou igual a 5%.

Resultados: Numa amostra de 2539 indivíduos, com idade média de 45 anos, 67% eram mulheres e 60% tinham um IMC superior a 35. Os participantes foram aleatorizados na proporção 1:1:1:1, para receber uma injeção semanal subcutânea de tirzepatide de 5mg, 10mg, 15mg ou placebo. Aproximadamente 86% dos participantes concluíram o estudo ao longo do período de 72 semanas. A percentagem correspondente à perda ponderal em cada grupo foi de 15% no grupo que recebeu administração de 5mg, 19.5% no de 10mg, 20.9% no de 15mg e 3.1% no grupo placebo (P<0.001 para todas as comparações com o placebo). Também foram observadas reduções em marcadores metabólicos, como uma redução média de 6.2mmHg na pressão arterial sistólica e de 4.2mg/dL no colesterol LDL. Quanto aos efeitos adversos mais graves, foram raros e igualmente distribuídos nos grupos em estudo. No grupo placebo, 2.6% dos indivíduos abandonaram o estudo devido a efeitos adversos, tendo sido essa percentagemn de 4.3% a 7.1% nos grupos tratados com tirzepatide.

Comentário: O tirzepatide, administrado semanalmente durante um período de 72 semanas mostrou ser eficaz na perda ponderal em adultos obesos, não diabéticos, apresentando resultados de perda entre 15-21% do peso corporal (comparativamente com 3% no grupo placebo). Em Portugal, tem havido um debate aceso em torno dos análogos GLP-1 disponíveis no mercado. Atualmente, a comparticipação pelo Serviço Nacional de Saúde está prevista para pessoas com obesidade e diabetes. No entanto, a crescente prescrição off-label, esgotou os stocks de vários destes fármacos, tendo muitos diabéticos constatado dificuldades na sua obtenção. A obesidade também deve ser vista como uma doença e merecerá reflexão a possível comparticipação de fármacos para esta finalidade. A acontecer, terá que ser parte de um plano mais abrangente a incluir um plano de dieta e exercício físico, e ainda ser ponderada a disponibilidade orçamental e sempre observados os princípios  de ética médica, nomeadamente, o da justiça.

Artigo original: NEJM

 

Por Cristina Santos (USF Albufeira) e Sofia Baptista

 

 

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