Um programa baseado em “mindfulness” pode ser tão eficaz como o escitalopram para o controlo da ansiedade

 

 

Pergunta clínica: Em adultos com perturbação de ansiedade, um programa de mindfulness é tão eficaz como o escitalopram na redução dos níveis de ansiedade?

População:  adultos com perturbação de ansiedade
Intervenção:  programa semanal de redução de stress baseado em mindfulness, durante 8 semanas
Comparação: escitalopram 10-20 mg por dia, durante 8 semanas
Outcome (primário): níveis de ansiedade (escala Clinical Global Impression of Severity)

Desenho do estudo: Trata-se de um ensaio clínico randomizado controlado de não-inferioridade. Foram recrutados adultos com perturbação de ansiedade diagnosticada. No início do estudo, os participantes foram distribuídos aleatoriamente na proporção de 1:1 por dois grupos: programa semanal de mindfulness durante 8 semanas vs. escitalopram (doses flexíveis entre 10 e 20 mg por dia) durante 8 semanas. Cada sessão de mindfulness tinha lugar numa clínica local, com uma duração aproximada de 2,5 horas, na qual era pedido aos participantes que realizassem um período de meditação diária de 40 minutos. O marcador primário foi  o nível de ansiedade medida pela escala Clinical Global Impression of Severity (CGI-S), com uma margem de não-inferioridade pré-determinada de -0,495 pontos.

Resultados: A amostra final foi de 208 pacientes (102 no grupo mindfulness e 106 no grupo escitalopram), apresentando uma média de 33 anos de idade, sendo a maioria do sexo feminino (75%). No endpoint, a média do score CGI-S foi reduzida em 1,35 no grupo mindfulness e em 1,43 no grupo escitalopram, encontrando-se esta diferença de -0,07 entre grupos dentro do intervalo de não-inferioridade definido. Dos pacientes que iniciaram o tratamento, 10 (8%) saíram do grupo do escitalopram por efeitos adversos e nenhum do grupo mindfulness. Pelo menos 1 efeito adverso relacionado com o estudo ocorreu em 110 dos participantes sob escitalopram (78,6%), e em 21 dos participantes do grupo mindfulness (15,4%).

Comentário: As perturbações da ansiedade são comuns e podem ser extremamente incapacitantes. Numa era em que cada vez mais se fala em saúde mental e na sua importância, as intervenções baseadas no mindfulness têm-se tornado populares para a diminuição da ansiedade. Os resultados deste estudo indicam que um programa de redução de stress baseado em mindfulness é não inferior ao escitalopram. Contudo, são de realçar algumas limitações neste estudo. Há referência à realização de avaliações de seguimento às 12 e 24 semanas, mas os resultados reportados referem-se às 8 semanas. É comum os sintomas ansiosos terem uma boa resposta aos tratamentos a curto prazo, mas existir agravamento ao fim de alguns meses, pelo que seria importante conhecer os resultados de um seguimento mais prolongado. A escala que foi usada também pode ser discutível, pelo seu caráter subjetivo e por não ser uma escala baseada em sintomas ansiosos (que seria algo mais específico para avaliar a ansiedade). Por outro lado, a estratégia de mindfulness e dedicação de tempo que exige pode não se coadunar com as agendas de alguns pacientes. Estes resultados são interessantes e podem permitir optar pela melhor estratégia para cada paciente, numa perspetiva de Medicina centrada na pessoa.

Artigo original: JAMA Psychiatry

Por Diana Simões Marta, USF Flor de Lótus

 

 

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