Ácido nicotínico: será que é uma peça essencial no tratamento das dislipidemias?

Por Diana Carneiro, USF Horizonte

Foi publicado recentemente, no New England Journal of Medicine, um ensaio clínico controlado e aleatorizado que teve lugar nos Estados Unidos da América e no Canadá. Este estudo teve como objetivo verificar a existência ou não de algum benefício em adicionar ácido nicotínico ao tratamento das dislipidemias em doentes com valores baixos de colesterol HDL.

Todos os doentes que integraram o estudo tinham uma idade superior a 45 anos e doença cardiovascular estabelecida. Estes doentes receberam 40 a 80 mg de sinvastatina por dia e 10 mg de ezitimiba, se necessário, para manter os níveis de colesterol LDL entre 40-80 mg/dL. Entraram no estudo 3414 doentes, dos quais 1718 receberam 1500- 2000 mg de ácido nicotínico e 1696 receberam placebo. Os outcomes avaliados foram: morte por doença coronária, enfarte do miocárdio não fatal, acidente vascular cerebral isquémico, internamento por síndrome coronário agudo ou necessidade de revascularização coronária.

O estudo parou após três anos de acompanhamento devido à falta de eficácia demonstrada. Após dois anos de tratamento com ácido nicotínico, os valores de colesterol HDL aumentaram de 35 mg/dL para 42 mg/dL, os valores de triglicerídeos diminuíram de 164 mg/dL para 122 mg/dL e os valores de colesterol LDL diminuíram de 74 mg/dL para 62 mg/dL. Os eventos tidos em conta nos outcomes ocorreram em 282 doentes no grupo com o ácido nicotínico (16.4%) e em 274 doentes no grupo com placebo (16.2%) (OR= 1.02, p= 0.79).

Apesar de estudos prévios terem demonstrado aparente benefício do ácido nicotínico no tratamento das dislipidemias, os autores deste estudo não constataram o mesmo como os resultados evidenciam. Contudo esta conclusão não pode ser generalizada à população em geral visto que a maioria dos doentes deste estudo eram do sexo masculino, de raça caucasiana, tinham uma heterogeneidade de comorbilidades associadas e efetuavam outros medicamentos além da sinvastatina. Além da limitação descrita anteriormente, é importante não esquecer a influência que a alimentação, o exercício físico e o tabagismo têm na abordagem das dislipidemias.

Em tempo de contenções vale apena refletir na necessidade de manutenção de algumas terapêuticas que atualmente não têm evidência de benefícios para o doente.

Artigo original: https://www.mgfamiliar.net/wp-content/uploads/NEJM-AIM-HIGH.pdf

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