Evolução da alergia ao amendoim na infância


Pergunta clínica: Qual é a história natural da alergia ao amendoim nos primeiros 4 anos de vida?

Desenho do estudo: Estudo coorte prospectivo. Os investigadores, em colaboração com o estudo australiano intitulado “HealthNuts”, analisaram os dados obtidos de 5276 crianças de 12 meses que foram submetidas a testes cutâneos (“Prick Test”) para 4 alergéneos alimentares comuns, incluindo o amendoim. As crianças que tiveram uma resposta detectável no teste cutâneo (maior ou igual que 1 mm) foram referenciadas para realizar um teste de provocação oral formal. Os testes de provocação oral foram realizados, e posteriormente classificados em positivos ou negativos de acordo com critérios de diagnóstico estabelecidos, por investigadores que desconheciam os resultados prévios dos testes cutâneos. Todas as crianças que tiveram um teste de provocação oral positivo aos 12 meses de vida foram avaliadas sempre que possível, aos 4 anos de idade. Este follow-up incluía um questionário aos pais e a repetição do teste de provocação oral.

Resultados: Da coorte original de crianças de 12 meses com um teste de provocação oral positivo (n=156), 139 (89%) apresentaram o questionário de avaliação respondido pelos pais e 103 (66%) foram submetidas a repetição do um teste de provocação oral aos 4 anos. Destas, 22 crianças apresentaram um resultado negativo no um teste de provocação oral. De entre as 36 crianças que não foram submetidas a reavaliação formal com um teste de provocação oral, 6 apresentaram história reportada pelos pais de tolerância à ingestão de amendoim, definida como a ausência de sintomas perante a ingestão regular de amendoim na dieta da criança. Assim, um total de 28 crianças da coorte original (18%) apresentaram história relatada pelos pais de tolerância à ingestão regular de amendoim ou um teste de provocação oral negativo. Antecedentes de sensibilização a frutos de casca rija e ácaros, alergias alimentares coexistentes, eczema, e asma não foram preditivos de alergia persistente ao amendoim.

Conclusão: Neste estudo, 18% das crianças que apresentaram um resultado positivo para o amendoim no teste de provocação oral aos 12 meses de vida, não evidenciaram alergia persistente ao amendoim aos 4 anos de idade. Por outras palavras, cerca de 1 em 5 crianças fica com o problema da alergia ao amendoim resolvido de forma natural nos primeiros 4 anos de vida.

Comentário: Este é o primeiro estudo a examinar de forma sistemática e prospectiva a história natural da alergia ao amendoim, recorrendo para isso à realização de um teste de provocação oral (considerado como o método diagnóstico padrão) em todas as crianças sensibilizadas, tanto na primeira avaliação, como no follow-up, independentemente da magnitude da resposta no teste cutâneo inicial. Outro dos pontos fortes deste estudo relaciona-se com o facto do subgrupo com alergia ao amendoim ter sido recrutado de uma coorte de base populacional, representativa do espectro de alergia ao amendoim que se pode observar numa dada população, contrariamente ao verificado em estudos prévios que tipicamente recrutam indivíduos a partir de unidades de cuidados terciários para patologias imunoalergológicas de alto-risco. Uma possível limitação relaciona-se com a perda amostral observada no follow-up aos 4 anos. No entanto, os investigadores concluíram não existir diferenças significativas na prevalência de factores clínicos e sociodemográficos entre os participantes e os não-participantes, pelo que dificilmente levará a um compromisso dos resultados.

Artigo original: J Allergy Clin Immunol

 Por Ana Mafalda Macedo, USF Prelada



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