POEM: aliscireno em diabéticos de alto risco

Por Pedro Azevedo, IFE MGF – USF Fânzeres 

 

 

Pergunta clínica: Em pacientes com diabetes e doença renal ou doença cardíaca, aliscireno melhora os resultados?

 

Desenho do estudo: Estudo duplamente cego randomizado de 8561 pacientes para um grupo de intervenção a tomar 300mg de aliscireno ou placebo como ajuste para um inibidor da enzima de conversão da angiotensina (IECA) ou  antagonista do recetor de angiotensina (ARA). O resultado primário era um conjugado do tempo para morte cardiovascular, primeira ocorrência de paragem cardíaca com ressuscitação, enfarte miocárdio não fatal; hospitalização não planeada por insuficiência cardíaca, doença renal em estadio final, morte atribuída a causa renal, necessidade de substituição renal por diálise ou transplante ou duplicação da dose sérica basal de creatinina.

 

Resultados: O estudo foi interrompido prematuramente após a segunda análise de eficácia (follow-up mediano de 32,9 meses) por se ter verificado uma probabilidade de ocorrência do resultado primário superior no grupo a fazer aliscirieno em relação ao grupo controlo.  O resultado primário aconteceu em 783 pacientes (18,3%) no grupo do aliscireno em comparação com 732 (17,1%) no grupo controlo (risco relativo 1.08; IC 95%, 0.98 a 1.20; P=0.12). A única variável de resultado que apresentou uma diferença estatisticamente significativa quando analisada isoladamente foi a paragem cardíaca (0.4% no grupo aliscireno vs 0.2% no grupo controlo, P=0.04, número necessário para dano =500).

Os efeitos em resultados secundários foram similares embora a pressão sistólica e diastólica tenham sido mais baixas no grupo de intervenção em comparação com o placebo (1.3 e 0.6 mmHg, respectivamente). A proporção dos dentes com hipercaliémia (potássio sérico> 6 mmol/L) foi significativamente mais alta no grupo de intervenção (11,2% vs. 7,2%), e a proporção de hipotensos também (12,1% vs. 8,3%) (ambos com P<0,001).

 

Conclusões: A adição do aliscireno à terapêutica padrão com IECAs ou ARA em doentes diabéticos com alto risco de eventos cardiovascular e/ou renais não é suportada pelos dados obtidos havendo indícios de que pode mesmo ser prejudicial.

 

Comentário:  O ALTITUDE é um estudo financiado pela Novartis, que é até ao momento a única companhia farmacêutica no nosso país a trabalhar com a molécula do aliscireno. São sempre importantes estes estudos que nos mostram que nem sempre os interesses comerciais das empresas se sobrepõem ao interesse científico. Acerca do artigo, os efeitos nefastos da molécula podem ficar a dever-se ao facto da produção aumentada de renina quando usamos um IECA ou ARA isoladamente ficar impedida com o uso deste inibidor da renina, principalmente em indivíduos de alto risco. O estudo mostra bastante congruência e um desenho bastante claro e acessível, bem fundamentado e com uma amostra invejável. Uma última nota para a decisão de abandonar um estudo: esta decisão deve ser sempre feita segundo pressupostos já definidos no protocolo experimental à priori para evitar vieses de decisão. Vale a pena pensar nisto…

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