Auto-monitorização e controlo dos diabéticos não insulinotratados

Por João Pinto

Pergunta clínica: Será que a auto-monitorização glicémica melhora o controlo da doença em doentes com Diabetes Mellitus Tipo 2 não insulinotratados?

Comentário: A auto-monitorização glicémica é geralmente aceite como parte integral no controlo da Diabetes, com especial relevo nos doentes insulinodependentes. Tipicamente um glucómetro avalia o nível sanguíneo de glicose numa pequena amostra de sangue capilar, sendo estes valores utilizados para determinar a presença de hipo ou hiperglicemias e para orientar decisões de ajustes de dosagem de insulina ou de outras medicações, assim como alterações de estilos de vida, alimentação e atividade física. No entanto, a evidência da eficácia da auto-monitorização glicémica em diabéticos não-insulinotratados não é tão evidente.

Uma meta-análise publicada em Fevereiro de 2012 na revista British Medical Journal incluiu 15 artigos, 6 dos quais ensaios clínicos randomizados, envolvendo 2552 pacientes. Incluíram artigos desde 2000 com pelo menos 80 participantes e com a duração mínima de seguimento de 6 meses. Nos resultados descrevem uma redução média de -2,7 mmol/mol (I.C. 95% -3,9 a -1,6; 0,25%) nos níveis sanguíneos de HbA1C aos 6 meses naqueles que realizavam a auto-monitorização glicémica comparativamente aos que a não faziam. A redução média de HbA1C entre grupos foi de 2,0 mmol/mol (3,2 a 0,8; 0,25%) aos 3 meses (5 estudos) e de 2,5 mmol/mol (4,1 a 0,9; 0,35%) aos 12 meses (3 estudos). As diferenças nos níveis de HbA1C entre grupos foi consistente nas idades, níveis basais de HbA1C, sexo e duração da diabetes, embora o número de pessoas idosas ou mais novas e aqueles com níveis de HbA1C >86mmol/mol (10%) tenham sido insuficientes para interpretação. Não ocorreram alterações na pressão arterial sistólica (-0,2 mmHg, I.C. 95% -1,4 a 1,0), na pressão arterial diastólica (-0,1 mmHg, -0,9 a 0,6) ou níveis de colesterol total (-0,1 mol/L I.C. 95% -0,2 a 0,1).

A evidência nesta meta-análise não foi convincente para afirmar um efeito claramente benéfico da auto-monitorização glicémica no controlo clínico da Diabetes Mellitus Tipo 2 não insulinotratada comparativamente ao controlo da doença sem a mesma, embora os níveis de HbA1C entre os grupos tenha sido estatisticamente significativa. As diferenças nesses níveis foi consistente através dos subgrupos definidos pelas características pessoais e clínicas.

Conclusão: Portanto, a auto-monitorização glicémica não melhora consideravelmente o controlo da doença em Diabéticos não tratados com insulina, diminuindo a HbA1C uma média de 0,25% (pe., 8,3% para 8,05%) ao fim de 6 ou 12 meses. Parece também não existir um subgrupo de doentes em quem esta técnica funcione melhor. O melhor será mesmo reservar a auto-monitorização glicémica para os doentes que fazem insulina (ou sulfonilureias) para que possam despistar possíveis hipoglicemias.

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