Canabinóides na dor crónica, Parkinson, epilepsia e outras patologias

 

 

Pergunta clínica: Qual a eficácia dos canabinóides para as diferentes indicações médicas relevantes?

Desenho do estudo: Revisão sistemática e meta-análise, utilizando como fonte de informação 8 bases de dados. Foram incluídos ensaios aleatorizados que incluíssem estudos que abordassem o uso de canabinóides para fins terapêuticos. A selecção de estudos, extração de dados e avaliação do risco de viés foram efectuados de forma independente por dois revisores e as divergências resolvidas por consenso. A avaliação do risco de viés foi realizada com recurso aos instrumentos “Cochrane Risk of Bias” e “GRADE”. Os outcomes principais incluíram outcomes relevantes para os pacientes, eventos adversos e manutenção no ensaio. Foi usado o modelo de efeitos aleatórios na meta-análise.

Resultados: Foram analisados 152 ensaios clínicos aleatorizados, com um total de 12,123 participantes. A qualidade da evidência foi moderada a alta para os nabiximóis aplicados à dor crónica, espasticidade, sono, transtorno por uso de substâncias e depressão. Também para a epilepsia foi encontrada evidência moderada a alta para o canabidiol e para o dronabinol na síndrome de Tourette e doença de Parkinson. No entanto, para a maioria destas comparações foram observados benefícios baixos a moderados nos resultados, com diferença de médias padronizada entre 0,2 a 0,5 inferiores para a intervenção comparativamente ao placebo. Um substancial benefício foi obtido com o uso de dronabinol na síndrome de Tourette, com uma diferença de médias padronizada inferior em 1,01. Os eventos adversos foram frequentes com o uso de canabinóides, numa faixa de 147 a 251 eventos a mais por 1.000 pessoas tratadas em comparação com o uso de placebo. De referir que a manutenção no ensaio, uma medida de tolerabilidade global, foi similar entre os grupos a usar canabinóides e placebo.

Comentário: Apesar de nos últimos anos ter surgido investigação científica que suporta o uso de canabinóides em certas patologias, é necessária mais evidência. Na sua maioria, são estudos com muita variabilidade, que testam diversas patologias, sendo que há pouca uniformização entre as moléculas de canabinóides estudadas. No entanto, os estudos atuais já demonstram os benefícios no uso destas terapêuticas para determinadas patologias, sendo uma opção alternativa possível. De mencionar que, mesmo após leitura integral do artigo e do registo da revisão na PROSPERO, alguns aspetos metodológicos desta revisão sistemática e meta-análise permanecem pouco claros, o que constitui uma limitação.

Artigo original: BMC Medicine

Por Ana Catarina Afonso, USF Tornada 

 

 

 

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