Rastreio do cancro do colo do útero: citologia ou HPV DNA teste?

Por Hugo Paiva, UCSP Mira


 

Pergunta clínica: Haverá vantagem na pesquisa do vírus do papiloma humano (HPV) em relação à realização de citologia, no âmbito do rastreio do cancro do colo do útero?

Enquadramento: O rastreio do cancro do colo do útero tem como objectivo detectar lesões cervicais em fases iniciais, de modo a permitir um tratamento atempado e dirigido, impedindo a progressão para neoplasia. As técnicas de rastreio usadas consistem em exames citológicos (em lâmina ou em meio líquido) ou na pesquisa de DNA do vírus HPV. 

Desenho do estudo: Foramrealizados 4 estudos em países europeus (SwedeScreen, PROBASCAM,ARTISTIC e NTCC), comparando as 2 técnicas de rastreio, tendo comoobjectivo principal a detecção de lesões precursoras de neoplasiacervical. Seguimento por um período médio de 6,5 anos de 176464 mulheres comidades compreendidas entre os 20 e os 64 anos, que tinham sidoaleatoriamente distribuídas pelo grupo controlo (que realizava citologia– convencional ou em meio líquido) e pelo grupo experimental (querealizava pesquisa de HPV, seguida ou não de citologia), provenientesdos estudos anteriormente referidos.

Resultados: Foram detectados 107 casos de carcinoma invasivo do colo do útero. A detecção de carcinoma cervical invasivo foi similar entre as 2 técnicas de rastreio nos primeiros 2,5 anos de acompanhamento, mas significativamente menor no grupo experimental após esse período.
Nas mulheres que inicialmente realizaram citologia e cujo resultado foi negativo, a incidência cumulativa de carcinoma cervical invasivo foi de 15,4 casos por cada 100000 mulheres após 3,5 anos e de 36 por cada 100000 após 5,5 anos; nas mulheres que inicialmente realizaram a pesquisa de HPV e cujo resultado foi negativo, a incidência cumulativa de neoplasia invasiva foi de 4,6 por cada 100000 e de 8,7 por cada 100000, após 3,5 e 5,5 anos, respectivamente. Osresultados obtidos revelaram uma menor incidência de lesões CIN3 nasmulheres que foram submetidas a pesquisa de HPV em comparação com asmulheres que realizaram citologia, demonstrando que a pesquisa de HPVdetecta lesões CIN de alto grau persistentes mais cedo que a citologia,aumentando a probabilidade de tratamento antes da invasão. No entanto,uma vez que nenhum dos 4 estudos conseguiu demonstrar uma redução daincidência total de cancro, o número de casos foi insuficiente paradetectar se o rastreio pelo método da pesquisa de HPV é melhor que acitologia para diminuir a incidência de neoplasia cervical invasiva.

Conclusão: Quando comparado com a realização de testes citológicos (citologia convencional ou em meio líquido), o teste de pesquisa de DNA do vírus HPV confere 60-70% maior proteção no âmbito do rastreio do cancro do colo do útero. A pesquisa de HPV de 5 em 5 anos mostrou ter maior sensibilidade para identificar lesões pré-neoplásicas em comparação com a citologia de 3 em 3 anos, permitindo assim uma melhor prevenção do carcinoma invasivo do colo do útero, particularmente em mulheres com idade entre os 30 e os 34 anos.


Comentário: Em Portugal o recurso à identificação de DNA de HPV está reservado aos cuidados de saúde secundários, se a clínica e a colposcopia o justificarem (geralmente após referenciação por alterações na citologia). Qualquer eventual alteração no programa organizado de rastreio do cancro do colo do útero exige uma ponderação cuidada baseada em evidência incontestável e tendo em consideração os valores inerentes à prevenção quaternária. 

Artigo original

 

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