Tratamento de CIN: impacto na fertilidade e gravidez

 

Pergunta clínica: Qual o efeito do tratamento da neoplasia intraepitelial do colo do útero (CIN) na fertilidade e gravidez?

Enquadramento: Apesar do tratamento da CIN estar associado a complicações obstétricas o seu efeito na fertilidade e gravidez permanece incerto.

Desenho do estudo: Revisão sistemática e meta-análise de estudos de coorte, entre 1960 e março de 2014. Foram incluídos todos os estudos que compararam as mulheres com CIN com ou sem tratamento e o seu impacto sobre a fertilidade e as primeiras semanas de gestação (< 24 semanas). Foram incluídos os tratamentos destrutivos/ablativos (vaporização laser, diatermocoagulacao e crioterapia) e excisionais (conização “a frio”, conizacao com ansa diatermica, conização com laser e conizacao com agulha diatermica). Foram excluídos os estudos que não englobaram um grupo de controlo e aqueles que avaliaram o tratamento realizado durante a gravidez. Os resultados da fertilidade foram avaliados tendo em conta a taxa de gravidez, e o tempo de concepção. A avaliação nas primeiras semanas de gestação baseou-se na taxa de aborto espontâneo no primeiro trimestre (<12 semanas), no segundo trimestre (entre as 12 e 24 semanas), na taxa global, assim como na taxa de gravidez ectópica e mola hidatiforme. Foram seleccionados 15 estudos para a análise dos seus resultados.

Resultados: Em 4 estudos a taxa de gravidez foi estatisticamente superior no grupo de mulheres tratadas comparativamente às mulheres não tratadas (43% vs 38%, RR 1.29, IC 95%: [1.02-1.64]). Em 3 estudos o tratamento não afetou a proporção de mulheres que necessitaram mais de 12 meses para a conceção (15% vs 9%, RR 1.45, [0.89-2.37]). Em relação ao aborto espontâneo, a taxa global (10 estudos; 4.6% vs 2.8%, RR 1.04, [0.90-1.21]) e a taxa durante o primeiro trimestre (4 estudos; 9.8% vs 8.4%, RR 1.16, [0.80-1.69]) foram semelhantes no grupo de mulheres tratadas e não tratadas, embora o tratamento esteve associado a um maior risco de aborto no segundo trimestre (8 estudos; 1.6% vs 0.4%, 16 558 mulheres; RR 2.60, [1.45-4.67]). O número de gestações ectópicas (1.6% vs 0.8%; RR 1.89, [1.50-2.39]) foi superior no grupo de mulheres tratadas.

Conclusão: o tratamento da CIN não interfere com a fertilidade, embora possa estar associado a um maior risco de abortamento no segundo trimestre.

Comentário: As mulheres em idade fértil devem ser submetidas a um tratamento e que garanta a remoção/destruição da totalidade da zona de transformação, de forma a interromper a progressão da doença para cancro invasivo. São necessários mais estudos que avaliem qual a técnica e o tamanho de excisão que estão associados a um menor risco para estas complicações.

Artigo original:BMJ 

Por Estefânia Correia, USF Pedras Rubras  





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