Controlo estrito associado a maior mortalidade nos diabéticos acima dos 80 anos

 


 

Pergunta Clínica: Em indivíduos com mais de 80 anos e com Diabetes Mellitus tipo 2 (DM2), o controlo estrito da diabetes, da pressão arterial e do colesterol total conduz à redução da mortalidade?

Desenho do Estudo: Estudo de coorte com base populacional cuja base de dados provem do sistema informático dos cuidados de saúde primários no Reino Unido (“Clinical Practice Research Datalink”). Englobou indivíduos com 80 ou mais anos e com DM2 (N = 25.966). Pretenderam avaliar as associações entre HbA1c, pressão arterial (PA), colesterol total e mortalidade por todas as causas. Foram utilizados modelos de riscos proporcionais de Cox. As análises foram ajustadas para sexo, idade, duração da DM2 e estilo de vida. As variáveis em estudo foram: HbA1c, PA, colesterol total, comorbilidades, prescrição de medicamentos antidiabéticos e cardiovasculares. Foram excluídos os indivíduos com DM1 ou outros tipos de DM, se o diagnóstico de DM2 ocorreu antes dos 30 anos ou se foi prescrita insulina nos 180 dias após a data de diagnóstico.

Resultados: Ocorreram 4.490 mortes durante o seguimento (13.7%). A mortalidade em participantes com baixa  HbA1c (<6,0%) ou alta (≥8,5%) foi semelhante aos que tinham HbA1c entre 8,0-8,4%. A mortalidade em indivíduos com HbA1c de 7,0-7,4% foi mais baixa (80,9 óbitos por 1.000 pessoas durante um ano, HR ajustado (aHR)= 0.80, IC 95% = 0.70-0.91, p=0.001). A mortalidade associada foi maior nos indivíduos com PA <130/70 mmHg (151,7 óbitos em cada 1.000 por ano, aHR = 1,52, IC 95% = 1,34-1,72, p <0,001 vs referência PA <150/90 mmHg) e maior nos indivíduos com níveis de colesterol total mais baixos (<3,0 mmol / L, 138,7 por 1000, com aHR = 1,42, IC 95% = 1,24-1,64, p <0,001 vs referência colesterol total 4,5-4,9 mmol / L). A relação entre baixos níveis de colesterol total  e maior mortalidade variou de acordo com sexo (maior risco nas mulheres) e com o uso de medicação antidislipidémica.

Conclusão: Valores baixos de HbA1c, PA e colesterol total podem estar associados a maior mortalidade em adultos muito idosos com DM2. Estes dados observacionais podem sugerir que um controlo rigoroso dos fatores de risco cardiovascular pode não ser o mais indicado para esta população. São necessários mais estudos para confirmar estas associações e para identificar os valores alvos e metas nos indivíduos muito idosos.

Comentários: A ocorrência de hipoglicémias poderia explicar a associação entre HbA1c baixa e o aumento da mortalidade, contudo uma análise retrospectiva sugeriu que as hipoglicemias graves não explicavam o maior risco de mortalidade no grupo com tratamento intensivo. Neste estudo, os autores realizaram ajustamento para várias co-variáveis no processo analítico, contudo não se podem excluir factores de confundimento que não foram tidos em conta como  o nível de fragilidade de cada indivíduo, a atividade física, função renal sendo que estes fatores podem modificar as associações entre HbA1c, PA e colesterol total e a mortalidade.

Artigo original: J Am Geriatr Soc

Por Susana Silva, USF Locomotiva

 

 

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