Colchicina após enfarte reduz eventos cardiovasculares: estudo COLCOT

 

 

Pergunta clínica: Nos pacientes que tiveram um enfarte agudo do miocárdio há menos de 30 dias, o tratamento com colchicina reduz o risco de novos eventos cardiovasculares? 

Enquadramento: A evidência clínica tem demonstrado que o estado pró-inflamatório após enfarte agudo do miocárdio poderá desempenhar um papel na aterosclerose e aumentar o risco de complicações associadas. A colchicina é um anti-inflamatório oral potente, indicado no tratamento de gota e pericardite.

População: pacientes com enfarte agudo do miocárdio nos últimos 30 dias
Intervenção: 0,5 mg de colchicina por dia
Comparação: placebo
Outcome: composto (morte cardiovascular, necessidade de ressuscitação por paragem cardíaca, enfarte do miocárdio, acidente vascular cerebral e re-hospitalização por angina com necessidade de revascularização)

Desenho do estudo: Estudo aleatorizado controlado por placebo, duplamente cego. Foram incluídos pacientes com história de enfarte agudo do miocárdio recente (últimos 30 dias) e aleatorizados em dois grupos: um grupo recebeu colchicina diária em dose baixa (0,5mg) e o outro grupo recebeu placebo. Ambos os grupos foram tratados com dupla antiagregação plaquetária e estatinaO endpoint primário foi composto por morte cardiovascular, necessidade de ressuscitação por paragem cardíaca, enfarte do miocárdio, acidente vascular cerebral e re-hospitalização por angina com necessidade de revascularização. Foram ainda avaliados os componentes do endpoint primário e a segurança.

Resultados: No ensaio clínico participaram 4745 doentes (2366 no grupo colchicina e 2379 no grupo placebo).Os dois grupos eram similares no início do ensaio: a idade média foi de 61 anos, 19% mulheres, 30% fumadores, 20% diabéticos. Após uma mediana de 22,6 meses de seguimento, verificou-se que os pacientes do grupo tratado com colchicina apresentaram menor taxa de eventos em comparação ao grupo placebo: 5,5%  vs. 7.1% (hazard ratio [HR] 0.77; IC 95% 0.61 – 0.96; P = .02; number needed to treat [NNT] = 63). Estes resultados deveram-se predominantemente a menor ocorrência de AVC e a menor necessidade de revascularização de urgência. Relativamente aos efeitos adversos, não houve diferença estatisticamente significativa na ocorrência de diarreia, mas no grupo colchinina registou-se pneumonia mais frequentemente do que com placebo (incidência de 0.9% vs 0.4%; P = .03).

Comentário: O estudo COLCOT veio demonstrar que o uso da colcichina em baixa dose após enfarte agudo do miocárdio reduz os eventos cardiovasculares, nomeadamente AVC e hospitalização por angina com necessidade de revascularização. É um fármaco barato e bem tolerado e poderá ser considerado no tratamento de doentes com enfarte agudo do miocárdio recente. Seria positivo dispor de estudos adicionais que confirmem este efeito protetor. Estas conclusões têm o potencial de alterar a nossa prática clínica.

Artigo original: NEJM

Por Marta Fraga, USF Araceti

 

 

 

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