Se conduzir, não se distraia!

Por Pedro Santos, UCSP Norton de Matos


Pergunta clínica: A execução de tarefas secundárias durante a condução está associada a um aumento do risco de situações de acidente ou “quase-acidente” em condutores jovens com reduzida experiência e em condutores experientes?

Desenho do estudo: Estudo de coorte baseado em 2 estudos desenvolvidos por métodos experimentais semelhantes, em que foram instaladas câmaras de vídeo e diversos tipos de sensores no interior dos veículos de modo a comparar a prevalência de cada tarefa secundária antes de situações de acidente ou “quase acidente” com a prevalência das mesmas tarefas durante outros períodos aleatórios de condução. O estudo “NTDS” foi constituído por uma amostra de 42 jovens recém-encartados (habilitação para conduzir há menos de 3 semanas), enquanto o “100-Car Study” foi constituído por 109 participantes dos 18 aos 72 anos de idade.

Resultados: Este estudo demonstra existir um aumento significativo do risco de acidente ou “quase-acidente” associado ao manuseio do telemóvel (incluindo realização de chamadas e escrita de mensagens); alcance de um objecto no interior do veículo; observação de um objecto na berma da estrada; ingestão de alimentos; em condutores inexperientes. Relativamente aos condutores experientes, apenas a realização de chamadas esteve associada a um aumento do risco (com a ressalva de que a tarefa “escrita de mensagens” não foi tida em consideração pelo facto de esta raramente ocorrer à data da realização do 2º estudo). Embora os condutores inexperientes efectuem tarefas secundárias com maior frequência, as taxas médias de desempenho de tarefas secundárias entre os condutores experientes e inexperientes foram semelhantes.

Comentário: Este estudo, apesar das amostras reduzidas e de eventuais viéses na codificação das tarefas secundárias, demonstra claramente que as tarefas secundárias realizadas durante a condução, estão associadas a um aumento do risco de acidente, particularmente em condutores pouco experientes, nomeadamente quando se tratam de tarefas que implicam o desvio do campo de visão para fora da faixa de rodagem. Este aspecto é traduzido sobretudo pelo aumento de risco aquando da realização de chamadas, risco este, que parece reduzir durante o período de conversação propriamente dito, dado que o condutor recoloca o seu campo de visão na faixa de rodagem. Não se deve contudo interpretar este estudo no sentido de concluir que a conversação durante a condução é segura pois está mais que provado que esta reduz a atenção do condutor para eventuais perigos que surjam na estrada, assim como também interfere na performance da condução.

Artigo original

 

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