Pergunta Clínica: São as recomendações realizadas em programas televisivos médicos baseadas na evidência?
Enquadramento: A televisão é uma importante fonte de informação sobre saúde, contudo prevalecem dúvidas relativamente à qualidade da informação médica fornecida. Os programas televisivos médicos são encarados com cepticismo por muitos profissionais.
Desenho do estudo: Estudo observacional prospetivo, que incluiu todos os episódios de Janeiro a Maio de 2013 de dois programas televisivos médicos difundidos mundialmente: “The Dr Oz Show” (78 episódios) e “The Doctors” (79 episódios). Em cada episódio foram categorizados os tópicos abordados e identificadas e avaliadas as recomendações realizadas.
Resultados: Das 160 recomendações realizadas, 87 apresentaram algum nível de evidência (54%). No “The Dr Oz Show”, 46% das recomendações encontravam-se de acordo, 15% contradiziam e 39% não apresentavam evidência. No “The Doctors”, 63% das recomendações estavam de acordo com a evidência, 14% em contradição e em 24% esta não existia. Evidência com credibilidade elevada ou intermédia foi encontrada em 33% das recomendações do “The Dr Oz Show” e em 53% das recomendações do “The Doctors”. Em média, foram realizadas 12 recomendações por episódio no “The Dr Oz Show” sendo a mais frequente pertencente à categoria de “aconselhamento dietético” (39%). No “The Doctors”, verificaram-se, em média, 11 recomendações por episódio e a categoria de recomendações mais vezes realizada foi “consultar um profissional de saúde” (18%). O benefício específico das recomendações foi mencionado em 43% e 41 % e a magnitude do benefício foi abordada em 11% e 17%, respetivamente nos programas “The Dr Oz Show” e “The Doctors”. Os conflitos de interesse foram abordados em 0,4% das situações.
Conclusão: As recomendações realizadas nestes programas apresentaram falta de informação sobre os seus benefícios e respectiva magnitude. Cerca de metade das recomendações não apresentam evidência ou contradizem-na.
Comentário: Este é um estudo inovador que aborda a literacia em saúde. Sendo a televisão um dos maiores meios de difusão de informação torna-se necessário determinar a qualidade das recomendações sobre saúde transmitidas ao público, para que o “empowerment” dos doentes seja realizado da forma mais correta e com informação adequada.
Por Ana Ribeiro, USF São João de Braga