Diogo Martins @ Londres

 

 

Nome: Diogo Martins
Idade: 31 anos
Carreira: Saúde Pública
Local: Londres

Onde estás a viver e há quanto tempo? Porque optaste por ir trabalhar para o Reino Unido?
Vivo em Londres, mesmo no centro, há mais de quatro anos. A ideia inicial não era necessariamente trabalhar aqui, mas sim fazer o mestrado em Saúde Pública, que é um requisito do internato de Saúde Pública em Portugal. Sabia que queria fazer esta formação no Reino Unido, porque é uma referência mundial no que respeita à Saúde Pública e investigação. Depois, acabei por ficar, porque tive um convite para fazer o doutoramento e também uma proposta da Wellcome Trust.

O que fazes em Londres?
Trabalho a tempo inteiro numa Fundação, a Wellcome Trust, como Policy & Advocacy Lead. Numa tradução para Português, sou conselheiro político na área da Saúde. Sou especialista em políticas de Saúde Pública e vou trabalhando em diferentes portefólios; neste momento, trabalho na área das mordeduras de cobra, em que tento identificar necessidades e oportunidades de investigação nessa área no mundo inteiro.
Também sou estudante de Doutoramento na London School of Hygiene & Tropical Medicine – a minha grande pergunta de investigação é perceber o conceito de resiliência dos sistemas de saúde num contexto de alterações climáticas.
Estou ainda ligado a diversas organizações como a OMS e em Portugal colaboro como consultor da DGS na resposta COVID-19.

 


Wellcome Trust, Londres.

 

Planeias regressar a Portugal?
A curto e médio prazo, a minha vida é fora de Portugal. É de frisar que quanto mais tempo passo fora, mais valor dou a Portugal.

Como vês a resposta à COVID-19 nos dois países: Portugal e Reino Unido?
As respostas têm sido bastante similares, houve uma diferença em termos de timing inicialmente: Portugal foi mais efectivo numa primeira onda, neste momento estamos de alguma forma par a par. O Reino Unido tem uma população com alguma dificuldade em acatar instruções governamentais; apesar de tudo, o nosso mindset em Portugal é muito mais comunitário e social. O Reino Unido, por outro lado, tem sido um epicentro em termos de investigação, particularmente na vacina.

Quais as diferenças entre trabalhar em Saúde Pública em Portugal e no Reino Unido?
Em primeiro lugar, é preciso enfatizar que temos pessoas na área da Saúde Pública extremamente capazes em Portugal. Falta é a nível central capacidade de planear a longo prazo e de aproveitar talento jovem mais cedo. Esta é uma das grandes diferenças. A Saúde Pública é uma especialidade vista de forma muito séria aqui no Reino Unido, uma especialidade em que é dificílimo entrar – está no top 5. O NHS é a jóia da coroa para os Britânicos, tal como SNS em Portugal, apesar de a Saúde Pública não estar directamente incluída no NHS, diversamente do que se passa em Portugal. 

Pensando em colegas médicos que neste momento ponderem uma mudança para o Reino Unido, a questão do Brexit, veio mudar alguma coisa? Podes deixar algum conselho?
Sim, não será tão fácil entrar no Reino Unido, contudo, como estamos a falar de uma profissão extremamente qualificada, ainda existem oportunidades e programas que abrem mais facilmente essas portas. No Reino Unido ainda há falta de médicos, particularmente no que respeita à Psiquiatria, Medicina Geral e Familiar, etc. A Libra baixou imenso em termos de câmbio, pelo que também será algo a ponderar na decisão de sair de Portugal.

Do que conheces do nosso SNS, o que levarias para o Reino Unido?
Acho interessante o grau de digitalização que temos no SNS. No Reino Unido – é certo que é um país maior e mais descentralizado -, mas é praticamente impossível eu ir a uma urgência e aceder-se ao meu processo no centro de saúde e não consigo perceber que isto ainda não tenha sido resolvido.

Do que sentes mais falta de Portugal?
Tenho saudades de ter maior balanço entre vida profissional e vida pessoal, o que tem sido mais difícil cá fora, por diversos motivos. Sinto que o meu descanso lá fora, não equivale ao meu descanso em Portugal, onde tenho os amigos, a família, a comida, o nosso sol e o nosso mar.

 

 

Médicos portugueses pelo mundo
Menu