Factores preditores de IRC após episódio de doença renal aguda




Pergunta clínica: Existem dados demográficos e/ou laboratoriais que permitam prever, em adultos, o risco de progressão para doença renal crónica após episódio de lesão renal aguda?

Objetivo: Desenvolver e validar um modelo preditivo para identificação dos pacientes em risco de progredir para doença renal crónica após episódio de lesão renal aguda no internamento.

Desenho de estudo: Estudo coorte. Incluídos 14958 participantes distribuídos por 3 coortes, a de derivação, a de validação interna e a de validação externa, sendo incluídos aqueles com taxa de filtração glomerular estimada anterior ao internamento superior a 45 ml/min/1.73m2 e que sobreviveram a internamento que cursou com lesão renal aguda (definida por um aumento na creatinina sérica durante o internamento > 0,3 mg/dl ou > 50% do valor basal antes do internamento). Outcome primário: presença de doença renal crónica definida como uma redução sustentada da taxa de filtração glomerular com valores inferiores a 30 ml/min/1.73m2 durante pelo menos três meses no ano após o internamento.

Resultados:  Incluídos 14958 participantes com uma média de idades de 66 a 69 anos, com 40 a 43% das mulheres, tendo uma creatinina basal média basal de 1.0 mg/dl e mais de 20% com lesão renal aguda estadio 2 ou 3 da classificação KDIGO. Desenvolveram doença renal crónica avançada 2.7% dos pacientes da coorte de derivação e 2.2% dos pacientes da coorte de validação externa. Na coorte de derivação, 6 variáveis foram associadas de forma independente com a probabilidade de progressão para doença renal crónica: idade avançada, género feminino, valor de creatinina basal mais elevado, albuminúria, maior gravidade da lesão renal aguda e valor da creatinina sérica à data da alta mais elevado. Nas coortes de validação, este modelo de 6 variáveis foi o que teve melhor desempenho e melhor capacidade de discriminação e de reclassificação.

Conclusão: Um score com 6 variáveis que usa variáveis demográficas e dados laboratoriais foi capaz de prever com precisão o risco de progressão para doença renal crónica após episódio de lesão renal aguda durante o internamento.

Comentário: As variáveis integradas neste modelo preditivo são variáveis demográficas e resultados de testes laboratoriais rapidamente disponíveis no momento da alta hospitalar e que podem ser incorporados em aplicações informáticas e em registos médicos electrónicos. Embora a fórmula tenha demonstrado excelente capacidade preditiva, não inclui outros factores de risco conhecidos para doença renal crónica que permitiriam refinar o modelo, como sejam a tensão arterial, a análise do sedimento urinário, a etiologia da lesão renal aguda e características do tratamento de substituição da função renal. Embora mais estudos sejam necessários, este instrumento constitui-se em mais um auxiliar no desafio clínico da continuidade de cuidados entre o hospital e a comunidade, sinalizando e estratificando o risco de progressão para doença renal crónica que pode guiar a orientação médica posterior na comunidade.

 

Artigo original: JAMA

 Por Ana Matias, USF Garcia de Orta 




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