Estudo randomizado: exercícios individualizados para as mãos dos doentes com artrite reumatóide


Pergunta clínica: Será que um programa de exercícios individualizados, para além da fisioterapia habitual, melhora a funcionalidade das mãos dos doentes com artrite reumatóide?

Enquadramento: A disfunção da mão é uma complicação frequente da artrite reumatóide, com significativas repercussões na qualidade de vida e capacidade laboral.

Desenho do estudo: Estudo pragmático, controlado e randomizado. Incluiu doentes que apresentavam diagnóstico confirmado de artrite reumatóide (segundo critérios clínicos e imunológicos do Colégio Americano de Reumatologia), com dor activa e disfunção da mão, e tinham sido sujeitos a regime terapêutico estável por um período mínimo de 3 meses (com ou sem inclusão de fármacos modificadores da doença). Os doentes foram aleatoriamente divididos em dois grupos: um, o grupo de controlo (n=244), foi submetido ao tratamento habitual e o outro, o grupo sob intervenção, em que os pacientes foram submetidos, para além do tratamento habitual, a um programa de exercícios ajustado ao doente, em regime domiciliário, com a duração de 12 semanas (n=246). O tratamento habitual consistia em até 1,5 horas de fisioterapia, sessões de esclarecimento sobre protecção articular e utilização de ortóteses; o regime domiciliário incluía 6 sessões com um fisioterapeuta ou terapeuta ocupacional. Os investigadores avaliaram os doentes 4 e 12 meses após a sua inclusão nestes grupos. Aproximadamente 90% dos doentes incluídos completaram o estudo, e 75% dos doentes do grupo de intervenção participaram em todas as 6 sessões.

Resultados: A funcionalidade da mão melhorou em ambos os grupos, com os doentes do grupo de intervenção a apresentarem resultados ligeiramente superiores em escalas padronizadas de avaliação (diferença média de 4-5 pontos numa escala de 100 pontos).

Conclusão: Apesar de relativamente pouco dispendiosos, os programas de exercício, individualizados ao doente, são apenas modestamente eficazes na melhoria da função da mão em doentes com artrite reumatóide.

Comentário: Os autores não referem qual é a diferença clinicamente importante mínima para a escala utilizada, contudo, nas medições que utilizaram, as diferenças que encontraram provavelmente não são clinicamente importantes. De um modo geral, são necessários cerca de 10-20 pontos numa escala de 100 pontos para que os utilizadores percepcionem que a diferença é significativa. Teria sido útil que os autores esclarecessem qual a proporção de doentes de cada grupo que foram capazes de atingir este grau de melhoria. Os autores defendem que a intervenção tem um custo de apenas 156£ por indivíduo (cerca de 200€). Mas se não tiver eficácia que o justifique, não interessa se realmente é pouco dispendiosa. Ainda assim e pelo exposto acima (ver enquadramento) é importante explorar possíveis oportunidades de medidas de reabilitação custo-efectivas que permitam maximizar os benefícios do tratamento farmacológico e reduzir a incapacidade. É importante lembrar que, apesar da evolução da terapêutica farmacológica nesta patologia permitir um melhor controlo da inflamação, ela ainda não se mostra capaz de fazer regredir a perda de funcionalidade inerente a esta condição.

Artigo original: Lancet

Por Ana Mafalda Macedo, USF Prelada



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