Estatinas e macrólidos: uma combinação arriscada

Por Maria João Pitta F. Silva, UCSP Barão do Corvo

 

Pergunta Clínica: Nos doentes medicados cronicamente com estatinas, a co-prescrição com claritromicina ou eritromicina, aumenta a toxicidade das estatinas?

 

Desenho do estudo: Estudo coorte. Foram analisados doentes com mais de 65 anos, medicados cronicamente com estatinas metabolizadas pelo citocromo P450 (atorvastatina, sinvastatina ou lovastatina), comparando-se os efeitos entre os doentes que receberam claritromicina ou eritromicina (inibidoras do citocromo P450) em relação aos que foram medicados com azitromicina (não inibe o citocromo P450).

O endpoint primário foi a hospitalização com rabdomiólise nos 30 dias após a prescrição dos antibióticos.

 

Resultados: De uma amostra inicial de 721 277 doentes, após aplicação dos critérios de exclusão, restaram 144 336 doentes, dos quais 75 858 medicados com claritromicina ( 96%)  ou eritromicina ( 4%) e 68 478 medicados com azitromicina. A estatina mais prescrita foi a atorvastatina em 73% casos. Comparando a co-prescrição de estatinas com azitromicina em relação à co-prescrição de estatinas com claritromicina ou eritromicina, esta ultima está associada a um maior risco de: hospitalização por rabdomiólise ( risco relativo 2,17; 1.04-4.53);  lesão renal aguda (risco relativo 1,78; 1.49-2.14) e mortalidade a 30 dias por todas as causas (risco relativo 1,56; 1,36-1,80).

O risco de hospitalização por hipercaliémia não apresentou diferenças significativas entre os dois grupos.

 

Conclusão: A co-prescrição de claritromicina ou eritromicina com estatinas metabolizadas pelo citocromo P450 está associada a um risco aumentado de toxicidade das estatinas em adultos com idades superior a 65 anos.

 

Comentário: A prescrição de estatinas é muito comum na nossa prática clínica, sendo os dados deste estudo de grande relevância. De facto, os resultados alertam-nos para a importância e os possíveis riscos destas interacções medicamentosas as quais podem ser prevenidas optando, como possibilidade, por prescrever um antibiótico que não iniba o citocromo P450 quando clinicamente apropriado.

 

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