Erro médico

Por Maria João Macedo, USF Ronfe

Pergunta clínica: quais as características principais do erro médico no âmbito dos Cuidados de Saúde Primários (CSP)?

 

Desenho do estudo:  Revisão dos registos médicos eletrónicos de duas unidades de CSP, durante um ano (2006 a 2007). Foram identificados todos os casos em que, após a primeira consulta em CSP, o doente necessitou de internamento hospitalar, recorreu a nova consulta ou ao serviço de urgência. Após essa identificação inicial, foram confirmados como diagnósticos errados apenas os casos em que, já na primeira consulta, havia indícios do diagnóstico correto. Foi selecionada uma amostra aleatorizada, não submetida aos critérios acima referidos, onde foi igualmente pesquisada a ocorrência de diagnósticos falhados.

 

Resultados: De um total de 212 165 consultas, detectaram-se 190 casos. Em 68 doentes não tinha sido identificado o diagnóstico correto. Os erros mais frequentes registaram-se nas seguintes patologias: Pneumonia (6,7%), Insuficiência Cardíaca Congestiva Descompensada (5,7%), Insuficiência Renal Aguda (5,3%), neoplasia primária (5,3%) e Infeção do Trato Urinário/ Pielonefrite Agudas (4,8%). Foi durante o contacto entre o médico e o doente que foram identificados os erros mais frequentes (78,9%), nomeadamente: na anamnese (56,3%); no exame objetivo (47,4%), e/ou no pedido de meios complementares de diagnóstico (MCDs) (57,4%). Verificaram-se, também, falhas nas referenciações (19,5%), no seguimento (14,7%) e na interpretação de MCDs (13,7%). Problemas relacionados com o utente também contribuíram para diagnósticos incorretos (16,3%). Na maioria dos casos foi associado um potencial dano ao doente, avaliado como moderado a severo.

 

Conclusão: Foram identificados erros de diagnóstico em patologias variadas e frequentes, com potencial dano para o doente. A maioria dos erros teve origem em falhas durante o encontro entre o médico e doente.

 

Comentário: Diariamente, num escasso tempo de consulta e com acesso a recursos limitados, o médico de família defronta-se com uma panóplia de patologias de crescente severidade e complexidade. Por isso, não é surpreendente que os CSP sejam vulneráveis a erros médicos. Numa altura em que se impõem variados recursos informáticos e os cuidados de saúde multidisciplinares, a prevenção do erro médico deve centrar-se nos fatores predisponentes, nomeadamente no aperfeiçoamento das competências clínicas e no aumento da eficiência na recolha e síntese da informação clínica.

 

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