NNT: estatinas em prevenção primária




Pergunta clínica: A terapêutica profilática com estatinas reduz a mortalidade cardiovascular, em pessoas sem evento cardiovascular prévio?

Enquadramento: A terapêutica com estatinas tem como objetivo primário a redução do colesterol, logo desempenha um papel importante no desenvolvimento de doença cardiovascular, ao diminuir as complicações, como a morte por enfartes agudos do miocárdio e acidentes vasculares cerebrais

Desenho do estudo: Sinopse da evidência realizada pelos colaboradores do grupo NNT que incluiu 11 estudos cuja população em estudo eram pessoas sem doença cardíaca, mas com diabetes, pressão arterial elevada, e / ou outros factores de risco cardíaco, como o tabagismo.

Resultados: Na maioria dos estudos não existe benefício na diminuição da mortalidade; sendo necessários 5 anos de terapêutica diária para diminuir a probabilidade de enfarte em 1,6% e de AVC em 0,37%. O estudo dos colaboradores do Cholesterol Treatment Trialists, que defende este benefício em pacientes de baixo risco é considerado, pelos autores desta sinopse, pouco válido cientificamente dado a metodologia dúbia. Relativamente aos efeitos secundários das estatinas, uma revisão afirma que ocorre miopatia secundária a estatinas em 10% dos casos; por sua vez os estudos JUPITER e AFCAPS revelam um risco relativo de 1,22 para o desenvolvimento de diabetes a 5 anos. Este traduz-se num risco absoluto de 1,12%, ou 1 em 89 de desenvolver diabetes com o uso continuado de estatinas.

– Não se verificou benefício na diminuição da mortalidade.
– NNT para prevenir 1 enfarte: 104
– NNT para prevenir 1 AVC: 105
– NND (diabetes): 89
– NND (lesão muscular): 10

NNT=Número necessário de pacientes que é necessário tratar para que 1 beneficie do tratamento
NND=Número necessário de pacientes que é necessário tratar para que 1 sofra dano devido ao tratamento

Comentário: Esta revisão vem questionar os benefícios cardiovasculares do uso profilático de estatinas versus os malefícios, defendendo que o seu uso como escolha adequada para a prevenção primária deve ser deixado à consideração individual. Apesar de a maioria considerar os benefícios superiores, há quem coloque a questão controversa se os efeitos danosos potenciais não é mais danosa para a maioria dos pacientes. A salientar, no entanto, que esta revisão não deve ser generalizada e não deve levar a abandono da terapêutica quando esta está indicada. De facto, existem vários quadros clínicos em que as estatinas mantêm a sua pertinência.

Artigo original: NNT

Por Ana Luís Alves, CS de Bragança  



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