São os fumadores mais ansiosos ou deprimidos?

Por Nuno Pina, UCSP Tábua


 

Pergunta clínica: a existência de hábitos tabágicos está associada a maior risco de ansiedade ou depressão?

 

Desenho do estudo: estudo observacional, descritivo, transversal, analítico com uma amostra constituída por 608 inquéritos respondidos. Inquérito anónimo e voluntário, entregue a todos os indivíduos que frequentaram as oito unidades de saúde da região da Beira Interior em estudo, de junho a agosto de 2011. Questionário constituído pela Escala de Ansiedade e Depressão Hospitalar (HADS), Teste de Fagertrom, e determinação da idade, género, estado civil, atividade profissional, escolaridade e consumo de tabaco. Como critérios de inclusão: idade igual ou superior a 18 anos, alfabetização dos utentes (ou analfabetos, se auxiliados a preencher o inquérito).

 

Resultados: Não houve diferença estatisticamente significativa em relação à ansiedade ou depressão, na comparação entre fumadores, ex-fumadores e não fumadores. Salienta-se a relação direta entre o grau de dependência da nicotina com a ansiedade e depressão, sendo apenas estatisticamente significativa no género feminino.

 

Comentário: De valorizar a investigação realizada, pela sua importância na prática clínica em cuidados de saúde primários, e pela existência de poucos estudos portugueses prévios a explorar de forma sistemática esta relação entre as patologias de ansiedade ou depressão e o perfil de hábitos tabágicos. Realizado com uma amostra de conveniência, os viéses de escolha e de voluntarismo condicionaram a fraca representatividade de alguns grupos populacionais, pelo que os resultados devem ser confirmados com uma maior amostra e abrangência geográfica, e maior representação populacional. A não determinação de uma relação entre ser ou não fumador e os sintomas de ansiedade ou depressão, vai de encontro à maioria dos estudos publicados. A relação entre a dependência de nicotina e a gravidade de sintomas de ansiedade e depressão verificada, permite refletir na possibilidade de uma maior dependência tabágica poder constituir um fator de risco para o desenvolvimento ou agravamento dessas perturbações. Os hábitos tabágicos estão fortemente associados a doença mental, mas a direção causal mantém-se incerta. Salienta-se assim a necessidade de estudos longitudinais que permitam analisar a relação de causalidade entre os hábitos tabágicos e a prevalência de sintomas de depressão e ansiedade.

Artigo original

 

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