Guideline: tratamento e profilaxia da gota




Pergunta clínica: Como tratar as crises agudas de gota e quando iniciar profilaxia?

População: Adultos diagnosticados com gota
Intervenção: Intervenções não-farmacológicas (alterações dietéticas e do estilo de vida, suplementos dietéticos e tratamentos alternativos) e intervenções farmacológicas (anti-inflamatórios não esteroides, corticosteroides, colchicina, fármacos hipouricemiantes e associação de fármacos).
Comparação: placebo ou cuidados habituais.
Outcome: dor, inchaço e sensibilidade das articulações, avaliação global do paciente, recorrência da crise de gota, níveis séricos de uratos e efeitos secundários dos fármacos.

Enquadramento: Atualmente existem dois paradigmas para o tratamento da gota. Se por um lado há estudos que defendem que o alvo terapêutico deve ser a redução da uricemia. Uma estratégia alternativa baseia-se no objetivo de minimizar os sintomas e evitar crises recorrentes de gota, através da intensidade do tratamento, sem necessidade de monitorização dos níveis de uratos.  Na verdade, o limiar adotado não é absoluto e pacientes com níveis elevados de ácido úrico podem ser assintomáticos, enquanto outros doentes com crises agudas podem apresentar valores abaixo daquele limiar.

Desenho do estudo: Guideline emitida pelo American College of Physicians baseada numa revisão sistemática e meta-análises de estudos, que avaliaram a profilaxia ou o tratamento das crises de gota.

Resultados: No tratamento da crise aguda de gota recomenda-se o uso de corticosteroides, anti-inflamatórios não esteroides ou baixas doses de colchicina. Não foram encontradas diferenças no grau ou velocidade de alívio da dor (corticosteróide versus anti-inflamatórios não esteroide). Os anti-inflamatórios não esteroides são eficazes como classe, não havendo necessidade de limitar a escolha da indometacina.  Doses baixas de colchicina (1,2 mg seguida de 0,6 mg após 1 hora) são tão eficazes na redução da dor quanto doses mais elevadas (1,2 mg seguida de 0,6 mg/h por 6 horas) e estão associadas a menos efeitos gastrointestinais. Na literatura não existe referência acerca de que pacientes beneficiarão de um fármaco em detrimento de outro, embora os autores se inclinem para os corticosteroides, dada a alta eficácia, baixo custo e baixo risco. A terapêutica profilática de rotina não deve ser realizada. Em vez disso, os pacientes devem ser informados dos benefícios, malefícios e custos da terapêutica e deixá-los decidir se, e quando começar a terapêutica. A evidência encontrada foi insuficiente para recomendar orientações dietéticas específicas na gota. Na prevenção de recidivas, deve-se optar pelas doses padrão de alopurinol ou febuxostat (mais caro), não havendo evidência da necessidade de monitorização da urina de 24 horas ou do ácido úrico. Se iniciada terapêutica hipouricemiante, deve realizar-se concomitantemente pelo menos durante dois meses, colchicina ou um anti-inflamatórios não esteroide.

Comentário: Permanece incerta a estratégia a adotar, “tratar para o alvo” vs “tratar para evitar sintomas”. No futuro, serão necessários mais estudo que avaliem os benefícios e os malefícios das duas estratégias. Para além disso, a evidência existente é insuficiente para determinar se o tratamento de pacientes com gota deve variar de acordo com as características demográficas e comorbilidades do paciente, apresentação clínica e gravidade da doença e valores laboratoriais.  No seguimento do doente com gota, a intensidade da terapia e a monitorização clínica da uricemia podem ser utilizados, mas devem basear-se no diálogo individual com os doentes, tendo em conta as incertezas das diferentes estratégias de tratamento.

Artigo original: Ann Intern Med

Por Eliana Fernandes, USF Santa Maria



Prescrição Racional
Menu