Estudo RCT: aumento de colesterol HDL não se traduz em redução da mortalidade




Pergunta Clínica: Em pacientes com antecedentes de patologia cardiovascular ou cerebrovascular (de alto risco), o tratamento com evacetrapib, fármaco que aumenta o colesterol HDL, contribui para reduzir os eventos e morte por causa cardiovascular? 


População: Pacientes com doença coronária aguda nos últimos 30-365 dias, doença cerebrovascular, doença arterial periférica ou diabetes com doença coronária

Intervenção: Medicação com 130 mg de evacetrapib

Comparação: Placebo

Outcome:  Morte de causa cardiovascular, enfarte agudo do miocárdio, revascularização coronária ou hospitalização por angina instável

 

Enquadramento: Em pacientes de alto risco, a diminuição do colesterol LDL alcançada pelas estatinas traduz-se numa redução acentuada do risco de morte e complicações cardiovasculares. Estudos epidemiológicos demonstraram uma relação inversa entre o colesterol HDL e os eventos cardiovasculares. No entanto, terapêuticas tendo em vista o aumento do colesterol HDL não demonstraram reduzir o risco cardiovascular. O evacetrapib é um inibidor da proteína de transferência do éster do colesterol que aumenta substancialmente o HDL e diminui o LDL. Este estudo pretendeu avaliar se a inibição causada por esta substância melhoraria os marcadores cardiovasculares a longo prazo em pacientes de elevado risco cardiovascular.

Desenho do estudo: Ensaio clínico de fase 3, duplamente cego, randomizado e multicêntrico envolvendo 12092 indivíduos que tinham, pelo menos, uma das seguintes condições: síndrome coronária aguda nos últimos 30-365 dias, doença cerebrovascular, doença arterial periférica ou diabetes com doença coronária. Os pacientes foram distribuídos de forma randomizada em dois grupos. Os pacientes do grupo intervenção foram medicados com 130 mg de evacetrapib e os pacientes do grupo controlo receberam placebo, isto para além da medicação habitual. O marcador primário analisado foi a primeira ocorrência de qualquer componente do seguinte conjunto de eventos: morte por causa cardiovascular, enfarte agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral, necessidade de revascularização coronária ou hospitalização por angina instável.

Resultados: Aos 3 meses, registou-se uma diminuição de 31.1% no colesterol LDL com o evacetrapib vs um aumento de 6% com placebo e um aumento de 133,2% no colesterol HDL com evacetrapib vs 1,6% com o placebo. No entanto, o estudo foi suspenso pela falta de eficácia demonstrada: após uma mediana de 26 meses de tratamento, o marcador primário ocorreu em 12,9% dos pacientes sob evacetrapib e em 12,8% dos pacientes sob placebo (HR: 1,01; IC 95%; P=0,91)

Comentário: Apesar do evacetrapib ter um efeito favorável nos marcadores bioquímicos estabelecidos para o colesterol, destacando-se o considerável aumento do colesterol HDL, o tratamento com este fármaco não resultou numa diminuição da ocorrência de eventos cardiovasculares em pacientes de alto risco cardiovascular.

Artigo original: N Engl J Med

Por Raquel Carvalho Ferreira, USF Santa Maria-Tomar




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