Meta-análise: o impacto das incretinas na mortalidade




Pergunta clínica: Em pacientes com diabetes tipo 2, o tratamento com medicamentos baseados na incretina aumentam a mortalidade?

Enquadramento: Antes de mais, esta pergunta pode parecer algo estranha, pois o objectivo do tratamento da diabetes com estes fármacos deveria ser o de reduzir a mortalidade. Na verdade, os autores que realizaram esta revisão sistemática e meta-análise avaliaram o impacto do tratamento com estes fármacos na mortalidade, mas, segundo os próprios autores, a principal motivação e interesse para a realização desta revisão, prende-se com o facto de ter sido publicado recentemente um ensaio clínico randomizado em que se observou uma aumento de mortalidade por todas as causas no grupo tratado com saxagliptina. Contudo, existem outros ensaios clínicos randomizados que apresentam resultados divergentes. Neste contexto, dado que à luz das recomendações atuais, os tratamentos baseados na incretina (agonistas do peptídeo 1 semelhante ao glucagom ou inibidores da dipeptidil peptidase – 4) representam opções terapêuticas relevantes na abordagem desta patologia é muito importante esclarecer o impacto destes fármacos na mortalidade. 

Desenho do estudo: Revisão sistemática com meta-análise, de ensaios clínicos randomizados. Foram comparados os efeitos na mortalidade dos agonistas do peptídeo 1 semelhante ao glucagom ou inibidores da dipeptidil peptidase – 4 versus placebo, alteração do estilo de vida ou antidiabéticos ativos. A seleção de artigos para análise, o risco de viés e a extração de dados foram garantidos por revisores independentes. Todos os ensaios analisados apresentavam tempo de seguimento igual ou superior a 12 semanas. Foi feita a comparação do número de mortes reportadas nos grupos de tratamento e controlo, tendo sido excluídos os estudos em que não ocorreram mortes em qualquer dos grupos.

Resultados: Foram incluídos no estudo 189 ensaios clínicos randomizados (n=155145), todos com risco baixo a moderado de viés. Destes, 77 (40.7%) reportaram ausência de mortes durante todo o período de seguimento; os restantes 112 (59.3%) reportaram um total de 3888 mortes (num total de 151 614 doentes), das quais 3592 provenientes dos 6 ensaios principais que incidiam sobre efeitos cardiovasculares. A meta-análise, que incidiu sobre os 112 ensaios que reportaram pelo menos uma morte, não demonstrou diferenças significativas na mortalidade (de etiologia multifatorial, incluindo eventos cardiovasculares) entre os fármacos baseados na incretina e o controlo. Uma regressão múltipla ajustada para o tempo de seguimento, risco basal de doença cardiovascular e forma de tratamento sugeriu que os agonistas do peptídeo 1 semelhante ao glucagom (mas não os inibidores da dipeptidil peptidase – 4) poderão estar associados a menor número de eventos mortais, mas os dados não apresentaram consistência suficiente.

Comentário. Os resultados obtidos com esta meta-análise não suportam a hipótese de que os fármacos baseados na incretina aumentem a mortalidade em doentes com diabetes tipo 2. Contudo também não foi observada uma redução da mesma. 

Artigo original: BMJ

Por Ana Pinho, UCSP Chaves IB 


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