Familiares presentes durante a reanimação?

Por Célia Oliva, USF Além D´Ouro

 

Pergunta clínica: Qual o efeito da presença dos familiares do doente durante a ressuscitação cardiopulmonar (RCP) nos próprios e na equipa médica?

 

Desenho do estudo: Estudo clínico aleatorizado em que 570 familiares de doentes em paragem cardiorespiratória assistidos por 15 equipas de urgência pré-hospitalar foram distribuídos aleatoriamente em 2 grupos:

        -Grupo de intervenção: oferecida ao familiar, de forma sistemática, a possibilidade de assistir à RCP;

        -Grupo controlo: seguida a prática habitual relativa à presença dos familiares durante a RCP.

O endpoint primário foi a proporção de familiares com sintomas de stress pós-traumático avaliados no dia 90. Os endpoints secundários incluíram a presença de sintomas de ansiedade e depressão nos familiares bem como o efeito da presença do familiar no esforço da equipa médica, o bem-estar da equipa médica e a ocorrência de queixas do foro médico-legal.

 

Resultados: No grupo de intervenção 79% dos familiares assistiram a RCP, comparativamente com 49% dos familiares no grupo controlo. A frequência de sintomas de stress pós-traumático foi significativamente superior no grupo controlo relativamente ao grupo de intervenção (odds ratio, 1.7; IC 95% 1.2 to 2.5; P=0.004) e entre os familiares que não assistiram à RCP relativamente aos que assistiram (odds ratio, 1.6; IC 95%, 1.1 to 2.5; P=0.02). De igual modo, os familiares que não observaram RCP apresentaram mais frequentemente sintomas de ansiedade e depressão. No que concerne aos profissionais de saúde, a presença dos familiares durante as manobras de ressuscitação não afectou a sobrevivência dos pacientes, o nível de stress dos profissionais e não resultou em queixas médico-legais.

 

Conclusão: A presença da família durante a RCP foi associada a resultados positivos, sem prejuízo dos resultados médicos ou da equipa de saúde e sem incremento das questões médico-legais.

 

Comentário: Este estudo inovador pode contribuir para uma maior humanização da medicina, tornando-a mais transparente e próxima dos familiares. Em última análise pode até funcionar como um mecanismo de aceitação e facilitação do processo de luto por parte dos familiares dos pacientes que morrem (cada vez mais) em meio hospitalar.

 

 

                                                                                                                                         Artigo original

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