MAPA reduz o "overdiagnosis" de hipertensão arterial

Por Ana Correia de Oliveira, USF São João do Porto

 


Pergunta clínica: O uso do MAPA de 24 horas para confirmação do diagnóstico de hipertensão arterial de novo tem vantagens? O seu uso será custo-efectivo

Enquadramento: Atualmente, a maioria dos doentes hipertensos são diagnosticados e seguidos na medicina geral e familiar. Sendo esta uma doença crónica, com uma prevalência de 40-45% na população adulta, é responsável pela ocorrência de eventos cardiovasculares e cérebrovasculares com grande impacto na quantidade ou qualidade de vida.

Desenho do Estudo: Estudo analítico observacional, realizado em 336 doentes recém-diagnosticados com HTA (PA ≥140/90 mmHg no consultório), durante 16 meses. Comparação do uso de MAPA versus ausência de MAPA no custo-benefício do tratamento de HTA.

Inicialmente foi avaliada a PA medida do braço esquerdo, após repouso de 10 minutos e repetição da medição após 8-15 dias. No caso de valores elevados de PA, recorreu-se a MAPA no braço não dominante, durante 24 horas. 24 doentes foram excluídos por se ter verificado normotensão na segunda medição. Avaliou-se concomitantemente os fatores de risco cardiovasculares, como idade, obesidade, dislipidemia, hábitos tabágicos e história familiar (familiares de primeiro e segundo grau) de doença cardiovascular antes dos 65 anos. Utilizou-se um modelo de cálculo económico contendo o custo de assistência médica (medicação, consultas por profissionais de saúde e exames auxiliares de diagnóstico) dos doentes diagnosticados de hipertensos versus doentes com uso de MAPA inicial.

Resultados: Dos resultados obtidos, 206 doentes foram considerados contendo HTA sustentada (PA diurna ≥ 135/85mmHg) e 130 (38,7%) foram diagnosticados com hipertensão de bata branca (PA diurna <135/85 mmHg). Os doentes com HTA sustentada demonstraram valores mais elevados de PA e maior número de fatores de risco cardiovascular, incluindo trigliceridemia. A percentagem de homens com HTA e hábitos tabágicos foi também superior no grupo de HTA sustentada, mas não se observou uma diferença estatisticamente significativa na percentagem de obesos, diabéticos ou dislipidémicos, em comparação com os doentes que apresentaram HTA de bata branca. Como 38% de indivíduos foram considerados hipertensos de bata branca, não necessitaram de medicação, bastando um acompanhamento médico e exames auxiliares de diagnóstico anuais, tendo-se calculado uma redução de custos de 23%, ou seja, menos 157 000 euros por 1000 doentes seguidos por dois anos em MGF.

Comentário: O MAPA contribuiu para diminuir o diagnóstico desnecessário e tratamento desnecessário de um número significativo de indivíduos com HTA da bata branca. Dada a elevada prevalênica de HTA da bata branca, o uso de MAPA no diagnóstico de HTA na prática clínica aumenta a qualidade do diagnóstico, melhora a estratificação de risco cardiovascular e diminui as despesas de saúde, demonstrando assim um custo-benefício favorável. Assim, o seu uso deve ser recomendado a todos os doentes considerados hipertensos, numa primeira abordagem, de modo a diminuir as despesas de saúde e evitar medicar excessivamente os doentes, além de serem falsamente “catalogados” como hipertensos. De acordo com este estudo, em concordância com a literatura em vigor, cerca de 30% dos doentes são hipertensos de bata branca. Logo, se for possível avaliar através do MAPA se o doente apresenta HTA sustentada, é possível identificar os indivíduos com HTA de bata branca. Como estes têm risco menor de lesão de órgão alvo, não devem ser medicados e uma consulta anual com exames auxiliares de diagnóstico é suficiente, diminuindo assim os custos de tratamento, follow-up e iatrogenia da medicação.

Artigo original

 

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