Obesidade: os mitos

Mariana Rio, USF São João do Porto

Muitos assumem que certas premissas são verdadeiras mesmo sem evidência científica (presunções). Outros são contrariados pela evidência científica mas mantêm o seu raciocínio de acordo com essas premissas (mitos).  Esta atitude resulta na aplicação de medidas de saúde pública sem fundamento teórico.
No artigo “Myths, presumptions and facts about obesity”, publicado a 31 de Janeiro de 2013 no New England Journal of Medicine, foi pesquisada e revista a informação relativa aos mitos e presunções mais frequentemente referidos na prática clínica.
Foram identificados 7 mitos dos quais se destacam os seguintes:

1. Pequenas alterações na dieta e exercício produzem alterações grandes e a longo prazo – as necessidades energéticas mudam à medida que há perda de peso, sendo necessário mais exercício e maior diminuição da ingestão calórica para manter a perda de peso.

2. Perda de peso lenta leva a maior sucesso a longo prazo – uma meta-análise revelou que a dieta de valor calórico muito baixo resultava em maior perda de peso aos 6 meses, com a diferença de peso mantida ao fim de 18 meses.

3. Uma relação sexual consome 100 a 300kcal/pessoa – durante a actividade sexual intensa, um homem de 70 kg consome cerca de 3,5kcal/minuto. O tempo médio desde a estimulação até ao orgasmo é de 6 minutos. É só fazer as contas…

Das presunções encontradas, destaca-se:

1. Tomar o pequeno-almoço todos os dias previne a obesidade – 2 estudos mostraram não haver qualquer relação.

2. Adicionar frutas e vegetais à dieta resulta na perda de peso – acrescentar qualquer tipo de calorias levará ao aumento de peso.

Também são referidos alguns factos cientificamente provados:

1. Alterações do estilo de vida são tão eficazes na perda de peso como os melhores fármacos para tal.

2. As dietas são eficazes, mas fazer uma restrição dietética ou dizer a alguém para o fazer são 2 coisas muito diferentes.

3. A actividade física ajuda a perder peso e tem benefícios de saúde mesmo sem perda de peso.

4. Em crianças com excesso de peso, é importantíssimo envolver a família para o sucesso da perda de peso.

5. Fornecer esquemas de dieta ou alternativas menos calóricas são mais eficazes do que dar conselhos gerais sobre alimentação.

Alguns destes conselhos são dados diariamente na prática clínica. Será que mesmo com provas científicas eles se manterão? Como iremos manter os doentes motivados para perder peso sabendo que por cada quilo que perdem terão que fazer mais esforço para emagrecer? Tenhamos em conta: a dieta equilibrada e o exercício físico, mesmo sem perda de peso, é a receita de sucesso para o bem-estar.

 Artigo original  

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