Nicotina de substituição em grávidas fumadoras

 

Pergunta clínica: Os adesivos de nicotina em grávidas fumadoras são eficazes na cessação tabágica e no aumento do peso médio dos recém-nascidos?

Enquadramento: Fumar durante a gravidez aumenta o risco de complicações, não só neste período, mas também no parto, podendo condicionar efeitos a longo prazo para os recém-nascidos. Apesar de muitas mulheres pararem o consumo de tabaco espontaneamente durante esta fase,  não deixa de ser um grave problema de saúde pública.

Desenho do estudo: Ensaio multicêntrico, randomizado, duplamente cego, realizado entre Outubro de 2007 e Janeiro de 2013. Foram incluídas 402 grávidas entre as 12 e as 20 semanas de gestação, que fumavam pelo menos 5 cigarros por dia. A 203 foi colocado um adesivo de nicotina diário de 16h (de acordo com os níveis de cotinina da saliva, de forma a atingir níveis de substituição de 100%) e a 199 um adesivo de placebo diário de 16h, em ambos os casos até ao fim da gravidez.

Resultados: 1) Abstinência completa (desde início da aplicação do adesivo até à data do parto): grupo com adesivo de nicotina 5,5% vs grupo com adesivo de placebo 5,1% (odds ratio 1.08, 95%, IC 0.45 – 2.60). 2) Peso médio à nascença: grupo com adesivo de nicotina 3065g vs grupo com adesivo de placebo 3015g (p=0,41). 3) Tempo médio até fumar o primeiro cigarro após aplicar o adesivo: 15 dias em ambos os grupos. 4) Frequência de eventos adversos sérios: similar em ambos os grupos. 5) Tensão arterial média: significativamente maior no grupo com adesivo de nicotina do que no placebo.

Conclusão: Os adesivos de nicotina não aumentaram as taxas de cessação tabágica e os pesos médios à nascença dos recém-nascidos.

Comentário: Neste estudo verificou-se que a taxa de abstinência completa foi baixa em ambos os grupos. Este dado, demonstra que outros fatores, para além da substituição nicotínica individualizada, determinam a abstinência das grávidas fumadoras. No que respeita à segurança, a tensão arterial média foi maior no grupo com adesivo de nicotina em relação ao placebo, aspeto importante que deverá ser confirmado em estudos futuros. Deve-se ter em conta que um dos grandes determinantes na abstinência é a motivação individual. A gravidez deverá ser encarada como uma fase com boas oportunidades para instituir mudanças a nível dos hábitos como o tabagismo. Os resultados deste estudo devem encorajar a avaliação de novas abordagens farmacológicas e não farmacológicas. Por agora, a terapia comportamental continua a ser a principal estratégia para ajudar mulheres grávidas a deixarem de fumar.

Artigo original

Por Maria João Silva, UCSP Barão do Corvo

 

 

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