Novo Manifesto para a Ciência em Portugal

 

 

José Mariano Gago (1948-2015) teve um papel determinante no desenvolvimento da ciência no nosso país. A sua carreira incluiu o ensino universitário, a investigação científica e a política. Estas diferentes actividades são complementares e não se excluem. Mas de facto salienta-se a sua capacidade para incutir a mudança nas organizações. Tarefa difícil num Portugal fechado sobre si mesmo, após o jugo de uma longa ditadura. Antes de desempenhar as suas funções como ministro da Ciência e Tecnologia em 1995 – e depois com nova nomeação em 2005- o professor universitário publicou, em 1990, um livro marcante intitulado de “Manifesto para a Ciência em Portugal”, agora reeditado.

 

Mariano Gago tem ainda a lucidez de afirmar que a ciência não deve ser entendida como uma panaceia. E não pode estar ao serviço duma utilidade pré-definida que interfere, necessariamente, com o método científico que pressupõe liberdade, sem resultados numa vertente “industrial aplicada, mas sem aplicação nenhuma”.

Em tom ensaístico o autor identifica a realidade lusa e sugere soluções abrangentes. Propõe a abertura e internacionalização, o reforço da cultura científica na educação, bem como a transparência nas decisões. Mariano Gago tem ainda a lucidez de afirmar que a ciência não deve ser entendida como uma panaceia. E não pode estar ao serviço duma utilidade pré-definida que interfere, necessariamente, com o método científico que pressupõe liberdade, sem resultados numa vertente “industrial aplicada, mas sem aplicação nenhuma”.
Uma parte da sua visão, como consta no prefácio desta recente edição, concretizou-se. Por exemplo, nas últimas três décadas doutoraram-se dez vezes mais alunos e as universidades são hoje locais de investigação e de ensino de excelência. Não obstante, há aspectos a melhorar. Temos ainda um atraso no número de doutorados em relação à média da Europa, persiste a precariedade no vínculo laboral dos cientistas e o investimento é curto e pouco competitivo. Acresce que na população, apesar da curiosidade sobre assuntos de ciência, há ainda um franco desconhecimento sobre os conceitos de ciência básica, sobre o que é o método científico e como devemos pensar de forma racional não confundindo, por exemplo, correlação com causalidade. Como podemos evitar a emigração dos nossos jovens investigadores? Como podemos renovar a educação científica? Julgo que precisamos de um “Novo Manifesto para a Ciência em Portugal”. Um movimento de cidadania que englobe todos os agentes políticos. Só com um consenso alargado poderemos desenhar uma estratégia de desenvolvimento da ciência. Mas para tal precisamos de líderes audazes, com visão ampla, honrando assim o legado de Mariano Gago.

Por Luís Monteiro

 

 

 

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