O Pintor de Almas


Foto: Parque Guell

Livro: “O Pintor de Almas” de Ildefonso Falcones


Já aqui vos falei de um livro de Ildefonso Falcones. Hoje, não resisto a falar-vos de outro. Nesse livro, falei-vos de uma cidade. No livro que partilho hoje, a cidade é a mesma, mas o tempo é outro. A ação d’O Pintor de Almas decorre na Barcelona do princípio de século XX. Ao ler este livro fui surpreendido por uma realidade que desconhecia, uma realidade dura, que chega a ser cruel mesmo.

Hoje, quando passeamos pelas ruas de Barcelona, quando visitamos Palau de Musica Catalana, o Parque Guell, a La Pedrera, a Sagrada Família ou a casa Batlló, ficamos maravilhados com o engenho, a criatividade e a genialidade dos autores daquelas obras. Estas obras resultam de um movimento artístico e cultural que ficou conhecido como o modernismo catalão. Por oposição à sobriedade escura e quase monocromática da arquitetura industrial do século XIX, o modernismo catalão caracteriza-se pela liberdade criativa, pelo uso de elementos da natureza, pela variabilidade atípica das formas e multiplicidade das cores. A multiplicidade das cores, através do uso de cerâmica e vidro colorido associada à luz típica de Barcelona, produz um efeito e uma beleza singular neste estilo de arquitetura. Neste estilo destacaram-se artistas como Antoni GaudíLluís Domènech i Montaner e Josep Puig i Cadafalch.

Contudo, quando hoje visitamos estes monumentos, estamos longe de imaginar o conturbado período que se viveu naquelas ruas aquando da sua construção. E essa é a grande surpresa com   que somos confrontados ao ler este “Pintor de Almas”. Baseando-se em factos verídicos, contando-nos a história de duas personagens fictícias, Dalmau Sala, um jovem pintor modernista, e de Emma, uma jovem anarquista, o autor oferece-nos uma viagem por essa Barcelona dos primeiros anos do século XX.


Foto: Basílica da Sagrada Família

Um dos aspectos que mais me cativou nesta leitura foi o de verificar que este livro, ao mesmo tempo que me transportava pelo encanto e sonho da beleza e da arte do modernismo catalão, levava-me também a conhecer a dureza da vida dos cidadãos dessa Barcelona, das injustiças sociais e das lutas legítimas de tantas pessoas por condições essenciais de vida. Por um lado, a arte e o belo, por outro, o ódio e a injustiça. Depois de ler este livro fiquei a conhecer melhor as obras e a compreender melhor o modernismo catalão, mas ao mesmo tempo, descobri uma realidade radical e a sucessão de eventos que conduziram àquela que ficou conhecida nos livros de história como a Semana Trágica de Barcelona.

Não resisto a partilhar uma curiosidade que descobri com este livro. Para quem já visitou as obras de Gaudí, certamente reparou no revestimento com pedaços irregulares de cerâmica que ele aplicava frequentemente nas suas obras. Essa técnica designa-se por trencadís e para a implementar, Gaudí usava restos das empresas de cerâmica de Barcelona cujo destino seria o entulho. Uma forma de reciclagem notável e com a qual Gaudí produziu “efeitos especiais” espectaculares.

Este livro ainda não está editado em Portugal. Quando cá chegar, leiam-no, vai valer a pena.

Finalmente, deixou-vos um vídeo. O livro, pela voz do autor:

Por Carlos Martins
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