Naquela tarde solarenga uma pequena multidão acorreu à inauguração do novo centro de saúde localizado no sul lusitano.A curiosidade era tanta que quase não havia espaço livre nos corredores e nos gabinetes. Tudo era novo, moderno e limpo. A sensação de “obra feita” pairava no ar. Até que alguém de fato e gravata perguntou com tom sarcástico “mas porque é que os médicos não querem trabalhar neste luxo? Porquê?”. Uma jovem colega, que se tinha mantido em silêncio, não resistiu e devolveu a pergunta: “E já perguntou aos médicos porquê?“. Lembrei-me desta história, que roça a anedota, perante a actual torrente de opiniões que inundam os média e respectivas redes sociais. Para não cair na armadilha do paternalismo cito brevemente o jovem médico Dr. Carlos Mendonça, presidente do Conselho Nacional do Médico Interno. Em declarações ao jornal “Público” o colega afirma “As pessoas têm hoje uma perspectiva um pouco diferente da geração de há 30 anos (…) A nova geração quer ter mais tempo para outras actividades, para estar em casa com a família, não quer ter que conciliar actividade pública com privada, não quer andar a correr de um sítio para outro. Quer conseguir gerir a vida com equilíbrio.” Aproveito para acrescentar que os jovens especialistas não são todos iguais e ao longo da sua carreira podem e querem ter fases distintas.
Até que alguém de fato e gravata perguntou com tom sarcástico “mas porque é que os médicos não querem trabalhar neste luxo? Porquê?”. Uma jovem colega, que se tinha mantido em silêncio, não resistiu e devolveu a pergunta: “E já perguntou aos médicos porquê?“
Por exemplo, há quem queira investigar e dedicar-se à vida académica. Outros querem ser úteis em áreas essenciais como os Cuidados Paliativos. Outros ainda preferem focar-se na parentalidade. Assim, como referiu o Prof. Pita Barros, a actual resposta monolítica de um único contrato de trabalho de 40 horas – às quais se somam as horas extra – para toda a vida já não serve o seu propósito.
Mas como é que é que se alcança um novo equilíbrio entre estas várias dimensões? Quem contrata deve assumir o seu dever na motivação dos médicos. Isto não é sinónimo de apenas mais remuneração (ainda que tal aspecto não se possa ignorar). Os profissionais de saúde precisam de se sentir respeitados e reconhecidos. Na minha opinião esta década será decisiva. Com o decorrer do tempo será possível discernir entre propaganda e medidas eficientes. Seremos capazes de construir uma rede segura e de qualidade para a prestação de cuidados de saúde?
Por Luís Monteiro