Pneumonia da comunidade: a etiologia



Pergunta clínica: Quais os microorganismos mais frequentemente causadores da pneumonia adquirida na comunidade (PAC)?

Enquadramento: A PAC é uma inflamação aguda do parênquima pulmonar de causa infecciosa, adquirida fora de unidades de saúde. Frequentemente o doente apresenta febre, tosse produtiva e dispneia, mas a sintomatologia pode diferir e pode não ter correlação útil com a etiologia. A incidência global é de 5-12/1000 pessoas/ano e mais elevada nos idosos. A escolha do antibiótico é empírica, com base nos dados epidemiológicos e clínicos e, se disponíveis, tendo em conta os elementos laboratoriais e radiológicos. Esta prática demonstrou levar à excessiva prescrição de antibióticos – fator causador de múltiplos efeitos secundários e promotor de estirpes baterianas multiresistentes.

Desenho do estudo: Estudo de vigilância epidemiológica, de base populacional, que teve como objetivo identificar o microorganismo causador da PAC. Foram estudados 2259 utentes adultos que recorreram ao serviço de urgência de 5 hospitais em Chicago e Nashville com sinais clínicos e imagiológicos de PAC. Realizaram-se hemoculturas e testes antigénicos urinários em praticamente todos os utentes para pesquisa de Streptococcus pneumoniae e Legionella pneumophila. Foram feitos esfregaços nasofaríngeos e orofaríngeos para pesquisa de vírus, Mycoplasma e Chlamydophila pneumoniae. Foi ainda realizada colheita de saliva para cultura em 41% dos utentes e pesquisa de vírus adicionais em 37% dos utentes.

Resultados: O agente patológico foi isolado em 38% dos casos diagnosticados com PAC, sendo 23% dos quais vírus, 11% batérias e 3% dos casos identificada etiologia mista (vírus + batérias). Em 1% dos casos foram isolados fungos ou micobatérias. O agente mais frequente foi o Rhinovirus (9%), seguido pelo Influenza (6%) e pelo S. pneumoniae (5%), Metapneumovirus humano (4%) e Vírus sincicial respiratório (3%).

Comentário: Embora o estudo se proponha a identificar os microorganismos mais frequentemente causadores da PAC, podemos apenas inferir conclusões daqueles que foram isolados naqueles hospitais dos Estados Unidos da América. O diferente método de recolha de amostras e a eventual contaminação de algumas culturas poderá ter introduzido algum viés aos resultados. No entanto, a elevada incidência de estirpes virais isoladas enquanto etiologia da PAC continua a constituir forte argumento para a necessidade de racionalizar a prescrição de antibioterapia no tratamento da PAC.

Artigo original:NEJM

Por Bernardo Pessoa, USF Lauoré 





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