Caminhar mais passos por dia associa-se a diminuição da mortalidade por todas as causas

 

 

Pergunta clínica: Existe associação entre o número total de passos diários e intensidade dos mesmos e o risco de morte prematura?

Desenho do estudo: A partir do National Health and Nutrition Examination Survey, os autores seleccionaram uma amostra representativa de adultos norte-americanos que haviam utilizado um podómetro acelerómetro durante o horário de vigília por um período de até 7 dias, nos anos 2003-2006.  Foram incluídos indivíduos com 40 ou mais anos e pelo menos 1 dia de uso válido (utilização mínima de 10 horas). A intensidade foi também estimada. A mortalidade foi avaliada em dezembro de 2015. O outcome primário foi a mortalidade global. Os outcomes secundários foram a mortalidade associada a doença cardiovascular (DCV) e a cancro.  

Resultados: Um total de 4840 participantes (idade média 56.8 anos, 54% do sexo feminino e 36% com obesidade) utilizaram podómetro em média 5.7 dias e cerca de 14.4 horas por dia. O número médio de passos diários foi de 9124. Verificaram-se 1165 mortes durante os 10.1 anos de follow-up médio, incluindo 406 mortes por DCV e 283 por cancro. A incidência de mortalidade por todas as causas foi de 76.7 por 1000 pessoas-ano para indivíduos que deram menos de 4000 passos por dia, 21.4 por 1000 pessoas-ano para indivíduos que realizaram entre 4000 a 7999 passos por dia, 6.9 por 1000 pessoas-ano para indivíduos que realizaram entre 8000 a 11999 passos por dia e 4.8 por 1000 pessoas-ano para indivíduos que realizaram mais de 12000 passos por dia. Os autores verificaram uma redução significativa da mortalidade por todas as causas quando compararam os indivíduos que deram mais de 8000 e mais de 12000 passos por dia com aqueles que deram apenas 4000 passos diários (Hazard ratio (HR)=0.49 [95% IC, 0.44-0.55] e HR=0.35 [95% IC, 0.28-0.45], respetivamente). Após ajuste para o número total de passos diários, não se verificaram diferenças estatisticamente significativas entre a intensidade da passada e a mortalidade (p=0.34).

Comentário: A recomendação da realização de pelo menos 10000 passos por dia é uma prática comummente observada na comunidade médica e nas ciências do desporto, embora a evidência da utilização deste cut-off seja limitada. Este estudo demonstrou que, em adultos com 40 ou mais anos de idade, o aumento do número de passos diários está associado a uma redução significativa da mortalidade por DCV, cancro e todas as causas. Tendo em conta a era tecnológica em que vivemos com facilidade de monitorização deste parâmetro (podómetro, smartwatch e/ou telefone) e sua integração (p.e. a aplicação MySNS Carteira), esta poderá ser uma estratégia para os médicos motivarem os seus utentes para a prática de atividade física. De referir que este estudo apresenta algumas limitações como o facto de ser obsevacional, impossibilitando inferências causais.

Artigo original: JAMA 

 Por Filipe Cabral, USF Marco

 

 

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