Prevenção cardiovascular na diabetes



Pergunta clínica: Como prevenir a doença cardiovascular no doente diabético?

Enquadramento: Existem atualmente 387 milhões de diabéticos no mundo. Segundo o Relatório Anual do Observatório da Diabetes de 2014 a prevalência em Portugal é de 13,1% (população com idades entre os 20 a 79 anos). As principais complicações crónicas da Diabetes são a neuropatia, retinopatia, nefropatia e a doença cardiovascular. No nosso país, 29% dos internamentos por Acidente Vascular Cerebral (AVC) são em pessoas com Diabetes, e quase 1/3 dos doentes internados por Enfarte Agudo do Miocárdio (EAM) são diabéticos. A letalidade nas pessoas com Diabetes e EAM é superior aos valores globais de mortalidade por EAM.

Desenho do estudo: Actualização das recomendações da American Diabetes Association para a prevenção da doença cardiovascular no adulto com diabetes tipo do 2. A American Heart Association e a American Diabetes Association realizaram uma síntese da literatura recente, novas guidelines e objetivos clínicos, incluindo rastreio de patologia renal e cardiovascular subclínica, para controlo de factores de risco cardiovascular em doentes com diabetes mellitus tipo 2.

Resultados: Existe uma relação pouco evidente entre o nível de HbA1c e eventos cardiovasculares, mesmo em pacientes com antecedente de doença vascular.  O ácido acetilsalicílico não é recomendado para todos os pacientes com diabetes na prevenção de risco, mas apenas para os doentes com diabetes e um risco cardiovascular de 5% a 10% a 10 anos. Os episódios de hipoglicemia podem aumentar significativamente o risco de doença cardiovascular .Para a maioria dos diabéticos a meta da pressão arterial deve ser valores inferiores a 140/90 mmHg, embora valores mais baixos possam estar recomendados em casos particulares como, por exemplo, nos mais jovens. O investimento na mudança de estilo de vida é necessário para obter resultados de perda de peso e diminuição da necessidade de medicação no controlo dos factores de risco, sem um aumento concomitante do risco de eventos cardiovasculares. Os doentes diabéticos (40 a 75 anos de idade) e com níveis de colesterol LDL superiores a 70 mg/dL devem ser tratados com uma estatina. Não há evidência para adicionar à tabela terapêutica um fibrato, mesmo com triglicéridos >200 mg/dL. Existe uma discreta recomendação para o rastreio de doença cardiovascular no diabético através de exames auxiliares de diagnóstico que vão desde o mais simples (eletrocardiograma) até ao mais controverso (avaliação do score de cálcio nas artérias coronárias).

Comentário: Este estudo, apesar de não ser uma revisão sistemática, parece antever mudanças nas recomendações. Para recomendar algumas das mudanças dos valores a atingir ou a aplicação de testes sem evidência direta do benefício ou pouco estudados, o grupo usa palavras como “pode ser considerado” ou “é razoável”, o que permite ao médico a decisão final acerca do tratamento e reforça a importância de um tratamento mais individualizado desta patologia.

Artigo original: Diabetes Care

Por Bruno Reis, UCSP Montemor-o-Velho 



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