Pneumonia: monoterapia ou tratamento combinado?


Pergunta clínica: O tratamento combinado da Pneumonia Adquirida na Comunidade (PAC) é mais eficaz que a monoterapia?

Desenho do estudo: Estudo aleatorizado realizado durante 4 anos e que estudou 580 indivíduos com Pneumonia Adquirida na Comunidade. Os grupos foram submetidos à terapêutica antibiótica com amoxicilina/ácido clavulânico ou com amoxicilina/ácido clavulânico e claritromicina. Em caso de infecção por Legionella pneumophila, aos doentes sujeitos a monoterapia também foi administrado o macrólido. O seguimento dos doentes durou 90 dias. Marcador (outcome) primário: proporção de doentes que não atingiram estabilidade clínica ao fim de 7 dias (definida como: frequência cardíaca <70bpm, pressão arterial sistólica > 90mmHg, temperatura < 38ºC, frequência respiratória < 24 cpm, saturação de O2 a ar ambiente >90%).

Resultados: Ao fim de 7 dias, 41.2% dos doentes medicados apenas com amoxicilina/ácido clavulânico não tiveram estabilidade clínica, em comparação com 33,6% dos doentes sob terapêutica combinada (7,6% de diferença,p=0,07). Doentes infectados com agentes atípicos ou que estivessem na categoria IV do índice de gravidade da pneumonia tendiam a ter pior resultado com a monoterapia. Não foram encontradas diferenças entre os grupos no caso de infecções por patogéneos comuns ou de categoria de gravidade inferior a IV. Também não foram encontradas diferenças na mortalidade, admissão nos cuidados intensivos, complicações, prolongamento do número de dias de internamento e recorrência da pneumonia.

Conclusão: Doentes com PAC por agentes comuns ou de baixa gravidade não beneficiam de fazer terapêutica combinada. Enquanto doentes infectados com agentes atípicos ou maior gravidade apresentaram pior resultado com monoterapia.

Comentário: Segundo a Organização Mundial de Saúde, a resistência aos antibióticos ameaça o tratamento eficaz de uma multiplicidade de infecções sendo uma ameaça à saúde pública mundial. Torna-se cada vez mais necessária a utilização criteriosa dos antibióticos e este artigo é um ponto a favor desta questão. Isto aplica-se principalmente a casos de pneumonia típica e não grave. Daí a necessidade da individualização da terapêutica, de acordo com os factores de risco do doente. Recorde-se que a monoterapia instituída neste estudo não reflecte as orientações da Direcção Geral de Saúde (NOC nº 045/2011) que estava em audição até Março de 2012 e que, depois disso, ainda não foi actualizada.

Artigo original: JAMA

Por Mariana Rio, USF São João do Porto

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