Qual o melhor tratamento para a menorragia?

 

 

Pergunta clínica: Qual o melhor tratamento para a hemorragia menstrual abundante?

Enquadramento: A menorragia é definida como perda menstrual excessiva que interfere com a qualidade de vida da mulher. Pode afectar entre 20 a 50% das mulheres em idade reprodutiva. Existem vários tratamentos disponíveis, com diferentes características a considerar.

Desenho do estudo: Em Maio de 2022, a Cochrane publicou um resumo e uma meta-análise em rede de intervenções para a hemorragia menstrual excessiva. O resumo faz o sumário da evidência de 9 revisões Cochrane que avaliaram a redução da hemorragia e a satisfação – que foram os dois outcomes ou marcadores primários –, bem como a qualidade de vida e os efeitos laterais do tratamento – outcomes secundários. A selecção de revisões, extracção de dados e avaliação do risco de viés foram efectuados de forma independente por dois revisores e as divergências resolvidas por consenso. Já na parte da meta-análise em rede, os autores combinaram dados dos estudos para perceber quais intervenções apresentavam melhores resultados, com excepção para a qualidade de vida em que foram feitas comparações por pares de intervenções.

Resultados: Foram incluídas 9 revisões, correspondendo a 104 estudos e 11,881 participantes. Os dados de 85 ensaios com 9,950 mulheres foram usados na meta-análise. Os tratamentos de primeira linha incluíram intervenções médicas (como anti-inflamatórios não esteróides, antifibrinolíticos como o ácido tranexâmico, contraceptivos orais combinados, progestativos orais, sistema intrauterino (SIU) com levonorgestrel, entre outros) e os de segunda linha corresponderam a SIU com levonorgestrel e intervenções cirúrgicas.
Da meta-análise em rede, o SIU com levonorgestrel apresentou-se como a melhor opção para reduzir a hemorragia menstrual, com os anti-fibrinolíticos a demonstarem ser a segunda melhor opção, e os progestagénios de ciclo longo em terceiro lugar. Devido a limitações dos estudos, não ficou claro o efeito das intervenções de primeira linha na satisfação.
Em relação aos tratamentos de segunda linha, a histerectomia demonstrou ser a melhor opção para a redução da hemorragia, com a ressecção histeroscópica do endométrio em segundo lugar. A histeroscopia minimamente invasiva resultou num aumento substancial da satisfação.

Comentário: É de ressalvar que a confiança dos revisores na evidência apresentada foi moderada para algumas avaliações, mas na maioria dos casos baixa. Isto prendeu-se, sobretudo, com o facto de alguns estudos não terem ocultação (isto é, os participantes perceberem que tratamento estavam a receber). Não obstante, os resultados apresentados são úteis e relevantes, podendo apoiar a decisão partilhada entre médico e doente perante as diferentes opções de tratamento da menorragia.

Artigo original: Cochrane Database of Systematic Reviews

Por Sofia Baptista

 

 

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