Intervenções para a prevenção de quedas nos idosos

Por Vítor Cardoso, USF Gualtar

Enquadramento: Com o envelhecimento a frequência de quedas aumenta por múltiplos motivos, incluindo problemas com o equilíbrio, visão e demência. Mais de 30% das pessoas que vivem na comunidade com mais de 65 anos, sofrem quedas todos os anos. Uma em cada 5 quedas pode exigir observação médica e menos de uma em cada 10 resulta em fratura.

Objetivo: Estabelecer as intervenções que previnem eficazmente as quedas nas pessoas com mais de 65 anos a viver na comunidade.

Metodologia: Pesquisa nas bases de dados da Cochrane, MEDLINE (1946-2012), EMBASE (1947-2012), CINAHL (1982-2012) e outros registos online.

Resultados: Foram incluídos 159 ensaios clínicos randomizados, em 21 países, totalizando 79.193 participantes, 70% mulheres.
O Tai Chi e os programas de exercícios em grupo ou em casa, que incluem geralmente treino de equilíbrio e exercícios de força, reduziram efetivamente as quedas. De uma forma geral, os programas de exercícios que visavam reduzir as quedas pareceram reduzir as fraturas. As caminhadas como exercício físico isolado não demonstraram reduzir o risco nem o nº de quedas.
As intervenções multifatoriais são complexas e consistem na combinação de várias categorias de intervenção. Consoante o risco individual de queda, realiza-se o tratamento ou providencia-se o encaminhamento adequado. No geral, a evidência atual mostra que este tipo de intervenção reduz o número de quedas em idosos, mas não o número de pessoas que caem durante o follow-up. A eficácia destas intervenções pode ser dependente de fatores ainda não determinados.
As intervenções para melhorar a segurança no domicílio parecem ser eficazes, especialmente em pessoas com elevado risco de cair (ex.: défices visuais) e quando realizadas por terapeutas ocupacionais. Um dispositivo de sapato antiderrapante (Yaktrax®) também pode reduzir as quedas em condições de gelo.
Os suplementos de vitamina D parecem não reduzir as quedas na maioria dos idosos residentes na comunidade, mas podem fazê-lo naqueles com níveis baixos de vitamina D previamente à suplementação.
As terapias cognitivo-comportamentais não foram eficazes na diminuição da taxa de quedas.
Alguns medicamentos aumentam o risco de quedas. Uma diminuição progressiva de alguns tipos de fármacos como hipnóticos, ansiolíticos e medicação psicotrópica no tratamento da depressão, demostrou reduzir as quedas.
A cirurgia à catarata reduz as quedas em mulheres na operação do primeiro olho afetado, mas não no segundo.
A inserção de um pacemaker pode reduzir as quedas em pessoas que caem frequentemente por hipersensibilidade do seio carotídeo, uma condição que causa mudanças bruscas na frequência cardíaca e na pressão arterial.
Em pessoas com dor incapacitante no pé, a intervenção conjunta da avaliação do calçado, uso de palmilhas personalizadas, exercícios regulares do pé e tornozelo por um podologista, reduziu o número de quedas, mas não o número de pessoas que caem.
A evidência relativa ao fornecimento isolado de material educacional para prevenção de quedas é inconclusiva.

Comentário: Esta revisão sistemática da Cochrane é a atualização de uma outra, publicada inicialmente em 2009. Com o rigor metodológico que dá nome à Cochrane, é descrita a avaliação do risco de vieses nos estudos incluídos. De realçar o facto de as quedas terem sido reportadas pelos próprios, podendo resultar numa sub ou sobre contabilização.

Artigo original 

 

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