Rastreio ou não: “Não é a maneira como dizes, é o que tu dizes!”

Por Mariana Rio, USF São João do Porto


Pergunta clínica: qual a opinião dos doentes com mais de 63 anos quando estão perante a hipótese de não fazer exames de “rastreio”?

 

Desenho do estudo: análise de gravações áudio de entrevistas a 33 doentes com idades entre os 63 e os 91 anos. Estes foram questionados sobre a sua percepção e experiências recentes nas decisões sobre a realização ou não de exames de rastreio. Publicado no Journal of the American Medical Association em Abril de 2013

 

Resultados: os doentes entrevistados consideraram que a realização de exames de rastreio era uma “obrigação moral”, um hábito difícil de parar e que a decisão de não os efectuar era extremamente difícil. Muitos sublinharam que nunca tinham discutido esta questão com o seu médico. Daqueles que o fizeram, a reação dependeu da qualidade da informação prestada: foi mal aceite se a recomendação da não realização dos exames fosse baseada em questões de estatística, idade ou orientações governamentais e foi bem aceite se fossem apresentados argumentos baseados nos riscos e benefícios de cada indivíduo.

 

Comentário: “Dr, vinha pedir-lhe os exames de rotina”. Quer se tenha muita experiência ou pouca, já todos ouvimos esta frase. Além disto, somos bombardeados com guidelines/normas/orientações/indicadores sobre o rastreio disto ou daquilo. O que é certo é que a Medicina não é uma ciência exacta, não se “tem” de fazer análises, não se “devem” fazer exames por isto ou por aquele outro. No fundo o que interessa é o doente. Nós somos o advogado da sua saúde. Para tal cabe-nos o papel de informar, sugerir, orientar de modo a que o doente seja capaz de optar de acordo com os riscos e benefícios pessoais e desmitificar a necessidade de exames “só para prevenir”.


                                                                                                                                                                             Artigo original


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