Falsos positivos no rastreio do cancro do pulmão



Pergunta clínica: Em fumadores e ex-fumadores recentes, qual o impacto do rastreio de cancro do pulmão por tomografia computadorizada de baixa dose?

Enquadramento: A United States Preventive Services Task Force recomenda o rastreio com tomografia computadorizada de baixa dose para todos os fumadores e ex-fumadores pesados com idades entre 55 e 80 anos. Há poucos estudos sobre a implementação desta recomendação.

Desenho do estudo: Estudo coorte realizado em oito centros médicos académicos nos Estados Unidos da América como o objectivo de analisar o impacto da implementação da recomendação da United States Preventive Services Task Force para o rastreio de cancro do pulmão. Do total de 93033 utentes foram identificados 4246 fumadores ativos ou ex-fumadores (cessação tabágica há menos de 15 anos), com pelo menos 30 Unidades Maço Ano. Os utentes  foram convidados a serem rastreados para cancro do pulmão através da tomografia computadorizada de baixa dose. 2106 utentes foram submetidos ao rastreio entre 1 de Julho 2013 e 30 de Junho 2015.

Resultados:  Dos 2106 (2028 homens e 78 mulheres; média de idades 64,9 anos) rastreados, 1257 utentes (59,7%) tinham um achado positivo na tomografia computadorizada de baixa dose, incluindo 1184 utentes (56,2%) que tinham um ou mais nódulos que necessitaram de vigilância. 73 indivíduos (3,5%) tinham lesões suspeitas de cancro do pulmão e 31 (1,5%) tiveram esse diagnóstico confirmado no ano seguinte (número médio de dias desde o rastreio até ao diagnóstico foi de 137dias). A taxa de falsos positivos foi de 97,5%.

Comentários: Este é mais um estudo que demonstra a elevada taxa de falsos positivos relacionada com o rastreio do cancro do pulmão com tomografia computadorizada de baixa dose. Através da tomografia computadorizada de baixa dose mais de metade dos pacientes fumadores ou ex-fumadores recentes terão um achado positivo e 94% desses necessitarão de vigilância. Um paciente em cada 17 será informado de que poderá ter cancro do pulmão mas apenas um paciente em 42 com resultados positivos na tomografia computadorizada de baixa dose terá, verdadeiramente, cancro do pulmão. De facto, medidas de prevenção quaternária devem ser tomadas pelos médicos que lidam com utentes com fatores de risco para cancro do pulmão, a fim de diminuir a lacuna entre a expectativa e a realidade relativa às potencialidades deste tipo de rastreio. A cessação tabágica é a medida preventiva mais importante.

Artigo original: JAMA Intern Med

Por Célia Maia, USF  Ponte Velha



A não perder
Menu