Rastreio do cancro do pulmão



Pergunta clínica: Os adultos em alto risco de cancro do pulmão deverão ser submetidos a rastreio deste cancro com radiografia torácica, citologia da expectoração ou tomografia computadorizada de baixa dose de radiação?

Enquadramento: O objetivo de um rastreio é detetar a doença num ponto da sua história natural passível de tratamento, prolongando a esperança de vida e reduzindo a morbilidade e a mortalidade. No passado foram tentados vários procedimentos de rastreio, por exemplo, através da citologia da expectoração ou radiografia do tórax, embora nenhum tenha sido capaz de diminuir a mortalidade por cancro do pulmão.

Desenho do estudo: Revisão sistemática da evidência científica e meta-análise com o objetivo de atualizar a guideline do Rastreio do Cancro do Pulmão da “Canadian Task Force on Preventive Health Care”. Pesquisa bibliográfica em quatro bases de dados de artigos publicados até 31 de março de 2015, juntamente com dados da Cochrane Library e base de dados de Medicina Baseada na Evidência, Foram incluídos apenas estudos randomizados que se reportassem aos benefícios do rastreio e quaisquer estudos que se referissem aos malefícios inerentes. Sempre que possível foram incluídas meta-análises. Foram selecionados 34 estudos.

Resultados: A melhor evidência científica disponível não demonstra a diminuição da mortalidade por cancro de pulmão com o rastreio através de radiografia torácica, com ou sem recurso à citologia da expectoração. Foram encontrados três estudos que compararam a realização de tomografia computadorizada de baixa dose com a conduta habitual, não tendo sido identificada diminuição significativa da mortalidade. Um estudo de larga escala e de elevada qualidade mostrou uma redução estatisticamente significativa de 20% na mortalidade por cancro de pulmão para o rastreio utilizando a tomografia computadorizada de baixa dose quando comparada com a radiografia torácica, com um seguimento de 6,5 anos. O rastreio através da tomografia computadorizada de baixa dose foi associado a sobrediagnóstico. Entre 4 estudos, as estimativas de sobrediagnóstico foram de 10,99% a 25,83%. Por cada 1000 pessoas submetidas a procedimentos invasivos na sequência do rastreio, verificou-se 11,18 mortes e 52,03 pessoas sofreram complicações major.  Num rastreio de exame único com tomografia computadorizada de baixa dose de radiação verificou-se 25,53% de falsos positivos e por cada 1000 rastreados, 9,74 indivíduos com patologia benigna tiveram que ser submetidos a exames invasivos adicionais.

Conclusões: A evidência atual não suporta o rastreio de cancro do pulmão através de radiografia torácica, com ou sem citologia da expectoração. Evidência de elevada qualidade mostrou que em indivíduos selecionados de alto-risco o rastreio através da tomografia computadorizada de baixa dose reduziu significativamente a mortalidade por cancro do pulmão e mortalidade por outras causas. No entanto, este rastreio apresenta riscos de dano significativos como o risco de sobrediagnóstico ou de complicações associadas aos exames invasivos subsequentes ao rastreio. Para a sua implementação a nível populacional, é necessário o desenvolvimento de práticas padronizadas e bem definidas para o rastreio através da tomografia computadorizada de baixa dose e da utilização de técnicas invasivas de seguimento, para aumentar a sua eficácia e diminuir os potenciais riscos associados.

Comentário:. A evidência mais recente, pelo rastreio com a tomografia computadorizada de baixa dose de radiação, abre novas expectativas, embora existam barreiras que tenham de ser ultrapassadas, para o que o seu benefício supere as limitações inerentes e os eventuais danos. 

Artigo original:Prev Med

 Por Inês Pintalhão, USF Garcia de Orta




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