Rastreio de doença cardíaca: que evidência?

 

Pergunta clínica: A realização de testes cardíacos em doentes assintomáticos ou de baixo risco de doença coronária tem impacto no risco de eventos cardiovasculares ou na mortalidade?

Enquadramento: Existe uma tendência para a requisição crescente de testes cardíacos para rastreio de doença coronária em doentes de baixo risco. Nos Estados Unidos da América houve um aumento da requisição de electrocardiogramas, em contexto de consulta medica programada de 6,1% para 11,3% entre 1999 e 2009.

Desenho do estudo: Revisão realizada pela American College of Physicians (ACP) que inclui os documentos publicados pela United States Preventive Services Task Force, as normas de orientação pela American College of Cardiology e os artigos científicos publicados sobre os benefícios e danos do rastreio de doença coronária em adultos assintomáticos ou de baixo risco.

Resultados: O rastreio coronário em adultos de baixo risco através de ECG em repouso ou com prova de esforço não é recomendado, embora os seus danos sejam negligenciáveis ou mínimos. Os exames com perfusão miocárdica apresentam risco de exposição a radiação. Outros demais danos, podem ser os resultados falso-positivos. Até 75% dos homens assintomáticos com prova de esforço positiva para isquemia não apresentam doença angiográfica significativa. Apesar da exatidão dos exames de imagem de stress (ecocardiograma de esforço) ser superior ao da prova de esforço, o seu valor preditivo positivo mantém-se relativamente baixo. O seguimento destes doentes pode resultar na realização de maior número de testes e intervenções desnecessárias, como angiografias e revascularizações, estas também com riscos associados.

Conclusão: Não existe evidência de benefícios no rastreio de doença coronária em indivíduos assintomáticos ou de baixo risco cardiovascular através de ECG em repouso, prova de esforço, ecocardiograma de stress ou imagens de perfusão miocárdica.

Comentário: Esta recomendação da ACP reforça a importância da prevenção quaternária (“primun non nocere”). De facto o uso excessivo e desnecessário de exames constitui um novo factor de risco. O aumento da literacia em saúde do cidadão é essencial para inverter esta tendência crescente.

Artigo original:Ann Intern Med

Por Sónia Moreira, USF Torrão

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