Repetir a medição da pressão arterial é "Evidence-Based"




Pergunta clínica: Perante um paciente hipertenso que, numa consulta de Medicina Geral e Familiar, apresente numa primeira medição da pressão arterial um valor superior a 140/90 mmHg,  qual o impacto de repetir a medição da pressão arterial?

Enquadramento: A hipertensão arterial é uma das patologias mais frequentes nos Cuidados de Saúde Primários, sendo importante o seu controlo adequado, de forma a prevenir o aparecimento de complicações. No entanto, apenas cerca de metade dos doentes avaliados nos cuidados de saúde primários, têm a sua pressão arterial controlada. Os diferentes erros na medição da pressão arterial são as principais causas de má qualidade da avaliação e a correção desses erros pode corrigir o sobretratamento.

Desenho do estudo: Estudo de coorte prospetivo. Foi avaliado o efeito da segunda avaliação da pressão arterial (1 minuto após a 1ª medição) na taxa de controlo da mesma. Incluídos mais de 38 000 doentes com diagnóstico de hipertensão arterial e acompanhados nos cuidados de saúde primários, entre 1 de janeiro e 31 de dezembro de 2016, em Cleveland, Ohio. Como parte da melhoria contínua da qualidade, foi introduzido um recordatório a nível eletrónico, para os profissionais de saúde reavaliarem a pressão arterial, nos casos em que a pressão arterial inicial estivesse elevada (≥140 / 90 mmHg). Os outcomes primários foram a diferença na pressão arterial sistólica (entre as leituras final e inicial) entre os doentes com uma pressão arterial  inicialmente elevada e a proporção de doentes cuja pressão arterial  estava controlada na medição final global e estratificada pelo nível da pressão arterial  sistólica inicial.

Resultado: Durante o período do estudo, 38 260 doentes com hipertensão arterial tiveram 80 864 consultas médicas. A pressão arterial inicial foi de pelo menos 140/90mmHg em 39% das consultas e uma pressão arterial inicialmente elevada foi reavaliada em 83% dos casos. A média da diferença na pressão arterial sistólica foi de aproximadamente -8 mmHg. A mudança na pressão arterial sistólica foi positivamente associada ao valor inicial da pressão arterial uma vez que quanto maior a pressão arterial sistólica inicial, maior a mudança na pressão arterial sistólica final. Entre todos os doentes com uma repetição da medida da pressão arterial, 36% foram inferiores a 140/90mmHg, sendo que, aqueles que apresentavam pressão arterial mais próxima do limiar, tinham uma maior probabilidade de ficarem controladas em medições repetidas. A repetição da avaliação da pressão arterial inicialmente elevada foi associada ao aumento da taxa de controlo da hipertensão arterial de 61% para 73%.

Conclusão: A repetição da avaliação de uma pressão arterial inicialmente elevada, foi associada a uma descida média de 8 mmHg na pressão arterial sistólica. Esta redução observada é clinicamente importante, sendo um efeito equivalente ao de certos medicamentos anti-hipertensores. 

Comentário: Os resultados deste estudo vêm reforçar a recomendação para a repetição da avaliação da pressão arterial e está de acordo com os resultados de outros estudos. No entanto, na realidade dos cuidados de saúde primários, nem sempre essa reavaliação da pressão arterial é realizada. Este facto deve-se maioritariamente à escassez de tempo em consulta. Numa perspetiva de prevenção quaternária e economia em saúde, esta reavaliação da pressão arterial , constitui uma importante medida a instituir nos cuidados de saúde primários, tanto em termos de consulta, como em ambulatório, ao fomentar-se a participação dos utentes no controlo correto da sua pressão arterial .

Artigo original: JAMA Intern Med

Por Mafalda David, USF Nova Via



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