Paragem cardiorrespiratória: sobrevida em idosos

Por Ana Mafalda Macedo, UCSP Carvalhido

 

Pergunta clínica: Qual o prognóstico após episódio de paragem cardiorrespiratória em meio hospitalar para doentes com idade igual ou superior a 65 anos?

 

Enquadramento: Aproximadamente 15% dos doentes submetidos a reanimação cardio-pulmonar após paragem cardíaca em meio hospitalar sobrevivem à cardioversão. No entanto, o prognóstico e evolução pós-alta permanecem incertos, em particular no que concerne aos indivíduos idosos.

 

Desenho do estudo: Estudo baseado no cruzamento de informação obtida a partir de um registo nacional de reanimação cardio-pulmonar (base de dados de reanimação intra-hospitalar, multicêntrica e prospectiva, patrocinada pela American Heart Association), com dados provenientes da Medicare (sistema de saúde privado).

 

Resultados: Foram identificados 6972 adultos com 65 anos ou mais à data da sua paragem cardiorrespiratória (no período entre 2000 e 2008). A idade média dos doentes era de 76 anos e 55% eram do sexo masculino. A distribuição por raça foi similar à verificada no país. O ritmo inicialmente identificado foi de assistolia ou actividade eléctrica sem pulso em 54% dos indivíduos, taquicardia ventricular em 16%, e fibrilhação ventricular em 30%. Aproximadamente metade dos indivíduos tiveram alta com sequelas neurológicas: ligeiras (34%), moderadas (14%) ou graves (3%). A sobrevida (não-ajustada) ao final do primeiro ano foi de 64% para os indivíduos com 65-74 anos, 57% para aqueles com 75-84 anos, e 45% para aqueles com 85 anos ou mais. A sobrevida foi semelhante para homens e mulheres, mas mais elevada nos indivíduos de raça caucasiana comparativamente aos de outras raças. A sobrevida mostrou-se fortemente influenciada pelo estado neurológico à data da cardioversão, variando entre os 73% para aqueles sem sequelas ou com sequelas mínimas, até aos 35% para os indivíduos com sequelas neurológicas moderadas, e apenas 8% nos indivíduos com sequelas graves ou em coma. A sobrevida após 3 anos foi de 44%, valor semelhante ao encontrado para a sobrevida a longo prazo após hospitalização por insuficiência cardíaca descompensada no idoso.

 

Conclusão: A sobrevida em idosos após reanimação cardio-pulmonar intra-hospitalar é de 60% após 1 ano e 44% após 3 anos.

 

Comentário: A sobrevida a longo prazo após reanimação cardio-pulmonar bem sucedida em meio hospitalar é superior à inicialmente expectável, tendo-se verificado que 59% dos idosos que sobreviveram a paragem cardiorrespiratória em meio hospitalar se encontravam vivos após um ano, e cerca de um terço não tiveram re-internamentos nesse período. As taxas de sobrevida e de readmissão hospitalar variaram de acordo com o sexo, raça, idade e estado neurológico do doente à data da cardioversão, sendo que foram particularmente influenciadas por estes dois últimos factores.

O achado de menores taxas de sobrevida em idades mais avançadas já era esperado, mas foi surpreendente que cerca de metade dos indivíduos com idade igual ou superior a 85 anos sobrevivessem ao primeiro ano após a alta. Este dado deverá implicar uma reflexão: apesar dos esforços na reanimação cardio-pulmonar intra-hospitalar de indivíduos de idade mais avançada serem frequentemente percepcionados como fúteis, a taxa de sobrevida relativamente alta nestes doentes sugere que as normas de actuação deverão ser individualizadas e ponderadas de acordo com a preferência (informada) e estado de saúde do indivíduo.

 

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