Análise de urina: justifica-se?

Por Paula Mendes, USF Maxisaúde 


 

Pergunta clínica: Qual o benefício da análise de urina como rastreio em adultos assintomáticos e sem fatores de risco, no que se refere à diminuição da morbi-mortalidade e melhoria da qualidade de vida?

Desenho do estudo: Revisão baseada na evidência publicada na RPMGF. Incluiu artigos datados até Março 2012, em inglês e Português. Foram seleccionados os estudos que incluíam adultos assintomáticos, que tinham realizado análise sumária de urina (ASU) sem indicação clínica. Os outcomes avaliados foram: percentagem de análises anormais, alteração na conduta clínica, efeitos adversos para o doente e diagnóstico precoce com melhoria da morbi-mortalidade e da qualidade de vida.

Resultados: Foram selecionados: 1 revisão sistemática, 2 estudos originais, 2 normas de orientação clínica (NOC) e 1 artigo de revisão não sistemática. A RS incluía 11 ensaios clínicos, num total de 6740 ASU e verificou que em cerca de 1/3 dos casos foram encontrados resultados anormais na ASU, no entanto a alteração na conduta clínica foi rara (0,1 a 2,8%) e com efeitos adversos mínimos nestes doentes (0-0,6%). Quanto aos 2 estudos de coorte encontrados (1º prospetivo e 2º retrospetivo), que comparavam a realização de ASU com indicação vs sem indicação clínica, demonstraram uma taxa de resultados anormais de 17% no 1º e 37% no 2º, com alteração da conduta clínica em apenas 0,7% no 1º estudo e 1% no 2º. O artigo de revisão não-sistemática incluído refere que não existe evidência que suporte o pedido de ASU em adultos assintomáticos. Finalmente, a NOC de 2010 da Finland Evidence Based Medicine diz que a requisição de ASU deve ser individualizada de acordo com indicação clínica enquanto a NOC do mesmo ano do Institute for clinical systems improvement recomenda contra o uso de ASU como exame de rastreio.

Conclusão: Os autores concluem que a ASU como teste de rastreio em adultos assintomáticos não traz qualquer benefício, pelo que não está recomendada.

Comentário: Não há dúvida de que a ASU é um exame frequentemente pedido nos Cuidados de Saúde Primários, nomeadamente nos diabéticos e nos Cuidados de Saúde Secundários em estudo pré-operatório. Esta revisão demonstra que apesar de a ASU ser requisitada rotineiramente, a maioria dos médicos não altera a sua atitude clínica perante um resultado anormal (menos de 5% dos casos). Em Portugal não existem recomendações sobre a requisição da ASU. São necessários mais estudos que tragam robustez à conclusão desta revisão, e que incluem idealmente uma análise de custo-efetividade

Artigo original

 

A não perder
Menu