Utilidade do trimetoprim e sulfametoxazol no tratamento de abcessos



Pergunta clínica: No tratamento por incisão e drenagem de abcessos cutâneos, o tratamento complementar com trimetoprim e sulfametoxazol melhora o resultado em termos de cura?

Enquadramento: O Staphylococcus aureus é um dos principais agentes de foliculites, impetigos, celulites e erisipelas. O aumento da incidência de Staphylococcus aureus resistente à meticilina como causa de infecção da pele e dos tecidos moles verificou-se um pouco por todo o mundo e em Portugal este valor é superior à grande maioria dos países europeus. O trimetoprim e sulfametoxazol foi um dos agentes que reteve a actividade in vitro, figurando entre os antibióticos mais prescritos no tratamento destas infecções. A primeira abordagem de um abcesso cutâneo consiste na sua incisão e drenagem. Este procedimento resolve a maioria dos casos, mas persiste a dúvida sobre a utilidade da antibioterapia complementar à drenagem.

Desenho do estudo: Estudo duplamente cego e randomizado. Foram analisados os dados de 5 serviços de urgência de áreas urbanas dos EUA, em que a probabilidade de Staphylococcus aureus resistente à meticilina era particularmente elevada. Os critérios de inclusão foram: idade superior a 11 anos e um abcesso cutâneo agudo com pelo menos 2 cm de diâmetro. Os 1247 doentes foram distribuídos aleatoriamente entre 2 grupos: um grupo foi medicado com  trimetoprim e sulfametoxazol (160/800 mg bid) durante 7 dias e o outro placebo. Todos os doentes foram submetidos previamente a incisão e drenagem do abcesso. A média de idades dos participantes foi de 35 anos (variando entre 14 e 73 anos), 58% era sexo masculino e as dimensões médias do abcesso foram de 2,5×2,0x1,5 cm. 84% tomaram pelo menos 75% dos comprimidos. O principal marcador definido previamente era a cura clínica do abcesso observada 7 a 14 dias após o final do tratamento.

Resultados:. A taxa de cura foi significativamente maior nos doentes medicados com trimetoprim e sulfametoxazol recorrendo à análise por intenção-de-tratar (80.5% vs 73.6%; redução de risco absoluto [RRA] = 6.9%; 95% IC 2.1-11.7%; número necessário tratar [NNT] = 14) e na análise per-protocolo (92.9% vs 85.7%; RRA = 7.2%; 3.2-11.2%; NNT = 14). Alguns dos marcadores secundários como infecção em coabitantes, necessidade de drenagem adicional e infecção cutânea em novas localizações também demonstraram melhorias no grupo medicado com trimetoprim e sulfametoxazol versus placebo (NNT= 42,20 e 14, respectivamente). Os efeitos secundários gastrointestinais foram mais comuns nos doentes medicados com trimetoprim e sulfametoxazol (42.7% vs 36.1%). No entanto, não houve diferenças entre os grupos quanto à taxa de descontinuação relacionada com os efeitos adversos.

Comentário: Este estudo permite concluir que o tratamento complementar com  trimetoprim e sulfametoxazol após a drenagem cirúrgica dos abcessos cutâneos melhora o resultado finalQuanto às limitações deste estudo, salienta-se a não adesão de alguns doentes e o facto de não existir um método validado e estandardizado para definir clinicamente o insucesso da cura do abcesso. 

Artigo original:NEJM

Por Sandra Amaral, USF S. Julião



 

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