Uma estratégia para tornar útil a informação online encontrada pelos pacientes

 

 

Pergunta clínica: Como devem os médicos lidar com a recolha de informação na internet que os doentes realizam previamente à consulta, de modo a poderem estabelecer uma relação terapêutica?

Desenho do estudo: Desta vez, não se trata de estudo, mas sim de um artigo de reflexão. Sendo a opinião proveniente do “Dr. Google” cada vez mais uma constante nas consultas médicas, os autores elaboram e propõem uma abordagem através da estrutura “WWW – Wait, What, Work together”.

Resumo: O grupo de autores elaborou uma metodologia para o médico abordar a pesquisa de informação que os doentes realizam previamente à consulta. A aplicação da estrutura proposta poderá permitir criar um ambiente de segurança psicológica e uma aliança terapêutica, bem como elaborar um plano em colaboração com o doente.
A primeira etapa – Wait – permite responder com empatia, resistindo ao impulso de avançar rapidamente com argumentos baseados em dados científicos, e demonstrar que se compreende a emoção do doente por detrás da procura de informação relativa à sua condição. Utilizando a abordagem “SAVE” devem ser usadas afirmações que demonstrem apoio (Support), conhecimento da situação do doente (Acknowledge), que validem a procura de informação realizada (Validate) e reconheçam a situação de doença como causadora de diversas emoções (Emotion). Podem usar-se frases como “É frequente procurarmos informação online sobre saúde antes de termos uma consulta. Encontrou alguma que gostasse de discutir?”.
A segunda etapa – What – relaciona-se com demonstrar curiosidade e possibilita aos doentes expor a informação que encontraram. É constituída por três fases: exploração – solicitar uma descrição dos dados recolhidos pelo doente; verificação da fonte – pedir ao doente para referir a fonte da informação; check-ins – questionar o doente sobre o que pensa sobre a informação que recolheu.
Por fim, a terceira etapa – Work together – tem como objectivo negociar um plano, assente na discussão de como incorporar a informação recolhida. As informações devem ser divididas em “não prejudiciais” e “potencialmente prejudiciais”. Para o primeiro grupo, o médico pode considerar juntar as opções preferidas pelo doente ao plano. Já quanto às alternativas consideradas “potencialmente prejudiciais”, o médico deve utilizar frases que demonstrem empatia, mas que expliquem o dano potencial decorrente dessa opção. Com esta abordagem, é possível estabelecer a abertura necessária para discussão da informação recolhida na internet e debater com o doente aquilo que é pertinente e relevante, dando espaço para esclarecimento das suas dúvidas e preocupações, com o contributo do conhecimento científico do médico.

Comentário: Este artigo apresenta um modo de abordagem sistematizada (WWW) a uma questão que surge cada vez mais em consulta, para a qual os médicos devem estar sensibilizados e capacitados. Abordar, na prática clínica diária, a recolha de informação que os pacientes realizam previamente à consulta pode permitir ao médico estabelecer uma relação terapêutica com o doente, que contribua para a satisfação de ambos.

Artigo original: J Gen Intern Med

Por Tânia Matias Mendes, UCSP Castro Verde

 

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