USPSTF: prevenção primária com AAS?





Pergunta clínica: nos indivíduos com 40 ou mais anos de idade, sem doença cardiovascular (DCV) estabelecida nem risco aumentado de hemorragia, a utilização de ácido acetilsalicílico (AAS) para a prevenção de DCV e cancro traz mais benefício do que dano?

Enquadramento: as DCV’s e as neoplasias malignas são as principais causas de morte em morte em Portugal, correspondendo a cerca de 55% destas (PORDATA 2015). Embora tenha sido anteriormente muito utilizada na prevenção primária das DCV, o AAS tem sido factor de preocupação no que toca aos seus malefícios, nomeadamente o risco aumentado de hemorragia gastrointestinal ou cerebral.

Desenho do estudo: revisão sistemática da evidência científica da USPSTF sobre a utilização do AAS na prevenção primária das DCV e de cancro nos indivíduos com 40 ou mais anos de idade, sem DCV estabelecida nem risco aumentado de hemorragia.

Resultados: a obtenção de benefícios com a toma de AAS depende do risco cardiovascular base do indivíduo (idade, género, etnia, valores do colesterol total, HDL, pressão arterial sistólica, diabetes mellitus e tabagismo) e da sua adesão à terapêutica. O aparecimento de malefícios depende da presença de factores de risco para hemorragia (idade, epigastralgia, úlcera gastrointestinal, sob hipocoagulação, utilização de anti-inflamatórios não esteroides e hipertensão arterial não controlada). O AAS tomado diariamente durante 5 a 10 anos previne o cancro colo-rectal.

Conclusão: A USPSTF recomenda a utilização do AAS em baixa dose (81mg) na prevenção primária da DCV e cancro colo-rectal nos indivíduos com idade entre os 50-59 anos, com SCORE ≥ 10%, baixo risco hemorrágico, esperança média de vida de pelo menos 10 anos e que estejam dispostos a aderir à terapêutica durante pelo menos 10 anos. Entre os 60 e os 69 anos, as recomendações são semelhantes, mas a sua introdução deverá ser pensada caso a caso. Não é recomendada a utilização do AAS como prevenção primária nos indivíduos com menos de 50 anos ou 70 ou mais anos de idade.

Comentário: como muitos outros temas da Medicina, as recomendações da utilização do AAS na prevenção primária da DCV e cancro equilibram-se na “corda bamba”. Uns estudos podem tender a favor num momento e noutro saem novos estudos contra. Estas recomendações da USPSTF são um novo impulsionador da utilização do AAS na prevenção primária. Porém, contradizem as orientações da Direcção Geral de Saúde (NOC nº 14/2011) que rejeitam a utilização do AAS devido ao risco de hemorragia grave.

Artigo original:USPSTF

Por Mariana Rio, USF São João do Porto




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