Vamos falar sobre obesidade

 

 

 

Segundo o estudo ACTION IO, a pessoa com obesidade leva, em média, seis anos para abordar pela primeira vez o assunto com o seu médico de família

 

Segundo o Inquérito Nacional de Saúde de 2019, cerca de 17% da população portuguesa apresenta obesidade. A obesidade surge associada a mais de 200 doenças e complicações, nomeadamente, diversos tipos de cancro, diabetes, doença cardiovascular, infertilidade, artrite, depressão e ansiedade. Ora sendo a obesidade uma doença associada a uma diminuição da esperança e da qualidade de vida, com um aumento da mortalidade associado, importa ao médico de família abordar e prevenir activamente esta doença na sua prática clínica. Sublinho, a obesidade é uma doença.  O estigma e a discriminação associados à obesidade também existem entre os médicos. Com relativa frequência observo colegas desvalorizar a vontade do doente de emagrecer, atribuindo-lhes a culpa absoluta para o seu estado de saúde. Se é verdade que a obesidade está intimamente relacionada com opções individuais de estilo de vida, também é verdade que esta é uma doença multifactorial, influenciada por hábitos alimentares culturalmente instituídos, alterações ambientais e sociais, acompanhadas de uma susceptibilidade genética subjacente. Segundo o estudo ACTION IO, a pessoa com obesidade leva, em média, 6 anos para abordar pela primeira vez o assunto com o seu médico de família e 71% dos médicos não inicia a conversa sobre o peso porque acreditam que as pessoas com obesidade não estão interessadas em perder peso. Assim, enquanto médicos de família, proponho que se inicie esta conversa sem receios. É essencial abrir um canal de comunicação, isto é, promover um ambiente seguro que permita conhecer a história do peso da pessoa que observamos e estabelecer objectivos realistas. Quando não se sentem confortáveis com o seu médico, estas pessoas vão procurar respostas a outros lugares, sendo rapidamente inundadas pela pseudociência, apostando tudo o que têm em pseudotratamentos, sem quaisquer ganhos para a sua saúde. O tratamento da obesidade deve assentar numa abordagem holística, com alteração de estilos de vida, seja através de uma alimentação saudável, seja através da implementação de exercício físico, nunca esquecendo a saúde mental. Perante indicação clínica, deve partir-se para a farmacoterapia e/ou cirurgia. O médico de família tem uma posição privilegiada no que toca ao acompanhamento da pessoa com obesidade, permitindo-lhe monitorizar a evolução e ajustar estratégias à medida que se vão alcançando os diversos objectivos traçados. Não pertencendo à Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade, sugiro a consulta dos diversos documentos disponíveis na sua página online, que considero ferramentas de trabalho valiosas, dirigidos quer a médicos, quer à população em geral.

Por Bárbara Gameiro, USF Serpa Pinto
Nota: texto redigido de acordo com a ortografia anterior.

 

 

 

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