Manobra de Epley no tratamento da VPPB



Pergunta clínica: Será a manobra de Epley efectiva a longo prazo no controlo dos sintomas da Vertigem Paroxística Posicional Benigna?

Enquadramento: A Vertigem Paroxística Posicional Benigna (VPPB) é a causa mais comum de vertigem periférica e apresenta uma incidência estimada anual de 64 casos por 100 000 pessoas. Na base da sua fisiopatologia os otólitos presentes, na maioria dos casos no canal semicircular posterior, precipitam os episódios pelo seu deslocamento no interior dos mesmos. Clinicamente caracteriza-se por um quadro de vertigem periférica, cujo início é precipitado pelos movimentos da cabeça, durando segundos e associando sintomas neurovegetativos e nistagmo característico. O diagnóstico confirmatório tem como base a Manobra de Dix-Hallpike, que despoleta as crises. Relativamente ao tratamento, é unânime que a Manobra de Epley (ver o vídeo em baixo) é eficaz a curto prazo, pela capacidade de reposicionamento dos otólitos a nível dos canais semicirculares. Como os resultados desta terapêutica a longo prazo não são considerados consensuais, este artigo pretende comprovar a eficácia da manobra a longo prazo quando comparada com uma manobra fictícia.

Desenho do estudo: realizou-se um estudo randomizado e duplamente cego, que incluiu 44 pacientes com VPPB com pelo menos um mês de evolução. Os pacientes foram divididos em dois grupos de 22 elementos: o primeiro submetido a terapêutica com a Manobra de Epley tendo-se aplicado ao segundo grupo uma manobra fictícia. Como endpoint primário, considerou-se a proporção de pacientes com uma Manobra de Dix-Hallpike negativa aos 12 meses de follow-up. Incluíram-se no estudo doentes com VPPB há pelo menos um mês, tendo como pré-requisito obrigatório uma resposta positiva à Manobra de Dix-Hallpike. Como critérios de exclusão consideraram-se: terapêutica prévia com a Manobra de Epley; hérnia (s) cervical (ais) ou problemas de comunicação relevantes. Monitorizaram-se os doentes aos 1, 3, 6 e 12 meses através da Manobra de Dix- Hallpike.

Resultados: Durante o follow-up (aos 1, 3, 6 e 12 meses), o grupo submetido ao tratamento com a Manobra de Epley apresentou uma Manobra de Dix-Hallpike negativa em 20 dos 22 pacientes, enquanto o grupo submetido à manobra fictícia apenas 10 em 22, resultando, assim, num risco relativo de sucesso com a Manobra de Epley de 2.0.

Comentário: a vertigem periférica representa um motivo frequente de consulta a nível dos Cuidados de Saúde Primários, sendo na maioria dos casos devida a VPPB dos canais semicirculares posteriores. O diagnóstico baseia-se numa anamnese cuidada associada a um exame objectivo que inclui a Manobra de Dix-Hallpike, diagnóstica de VPPB quando positiva. Os resultados do tratamento com a Manobra de Epley são muito positivos a curto-prazo, existindo algumas dúvidas quanto à sua efectividade a longo prazo. Assim, apesar de este estudo se basear em resultados obtidos através de uma amostra relativamente pequena, permite concluir que a Manobra de Epley é não só efectiva no tratamento a curto prazo da VPPB dos canais semicirculares posteriores, como também no tratamento a longo-prazo.








Artigo original: Clin Otolaryngol

Por Ana Rita Magalhães, USF Topázio 

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