A progesterona vaginal é eficaz na prevenção do parto pré-termo em mulheres de alto risco

 

 

Pergunta clínica: Qual é a eficácia comparativa dos diferentes tratamentos para a prevenção do parto pré-termo nas mulheres com alto risco?

Desenho do estudo: Revisão sistemática e meta-análise em rede, realizada para a Cochrane, utilizando como fonte de informação várias bases de dados, incluindo CENTRAL, EMBASE e MEDLINE. Foram selecionados ensaios clínicos aleatorizados de mulheres grávidas de feto único com alto risco para parto pré-termo com base em história anterior de parto prematuro espontâneo, incompetência cervical ou colo uterino curto. A pesquisa de literatura englobou todos os ensaios clínicos encontrados até agosto de 2021, sem restrição de idioma. Foi avaliada a eficácia comparativa entre os diferentes tratamentos de prevenção ao parto prematuro: repouso, cerclagem uterina, pessário cervical, óleos de peixe e ácidos gordos ómega-3, suplementos nutricionais (zinco), progesterona (oral, vaginal ou intramuscular), antibioterapia profilática, tocolíticos profiláticos, intervenções combinadas, placebo ou sem tratamento (controlo). A selecção de estudos, extração de dados e avaliação do risco de viés foram efectuados de forma independente por dois revisores e as divergências resolvidas por consenso. Os autores escolheram como principais marcadores (outcomes) o parto prematuro com menos de 34 semanas de gestação e a morte perinatal.

Resultados: Foram incluídos 61 ensaios clínicos, com um total de 17.273 participantes. A progesterona vaginal foi o único tratamento que, em comparação com o controlo, se associou à diminuição do risco de parto prematuro antes das 34 semanas de gestação (odds ratio [OR] 0,50; Intervalo de confiança (IC) 95% 0,34-0,70; 40 ensaios com 13,310 mulheres), e à diminuição de risco de morte perinatal (OR 0,66; IC 95% 0,44-0,97; 30 ensaios com 12,119 mulheres). Além do mais, as comparações entre a progesterona vaginal e as outras vias de administração ou entre a progesterona e os outros tratamentos não identificaram outro tratamento como superior. Vários resultados secundários para mulheres e recém-nascidos foram considerados e geralmente foram consistentes com os resultados principais. Apenas os tratamentos com progesterona, em comparação com os controlos, foram associados a reduções da síndrome de desconforto respiratório neonatal, sepsis neonatal, enterocolite necrotizante e na admissão em unidades de terapia intensiva neonatal.

Comentário: Esta é uma meta-análise robusta, com resultados muito interessantes e a ter em conta na prática clínica. Neste sentido, a progesterona vaginal deve ser considerada como tratamento preventivo de primeira linha para mulheres com gravidez de feto único e identificadas com risco aumentado para parto prematuro. Em futuros ensaios clínicos aleatorizados, a progesterona vaginal deverá ser usada como comparador para a identificação de melhores tratamentos ou combinação de tratamentos na prevenção do parto prematuro.

Artigo original: BMJ

Por Daniela Macedo Gomes, USF Serra da Lousã

 

 

Prescrição Racional
Menu