Ácido acetilsalicílico pode ser uma alternativa à enoxaparina na tromboprofilaxia pós-fractura

 

 

Pergunta clínica: Em pacientes com fratura de extremidade, pélvica ou acetabular, será a tromboprofilaxia com ácido acetilsalicílico (AAS) em baixa dose, duas vezes por dia, tão eficaz como a heparina de baixo peso molecular?

População: adultos com fratura de extremidade tratada cirurgicamente, ou fractura do acetábulo ou pelve tratadas ou não cirurgicamente
Intervenção:  AAS em baixa dose, duas vezes por dia
Comparação:  heparina de baixo peso molecular, duas vezes por dia
Outcome (primário): mortalidade por qualquer causa aos 90 dias

Desenho do estudo: Ensaio clínico aleatorizado de não inferioridade, pragmático, multicêntrico, que incluiu pacientes com 18 anos de idade ou mais, que tiveram fratura do membro tratada cirurgicamente, ou fratura pélvica ou acetabular, tratadas ou não cirurgicamente. Um grupo recebeu heparina de baixo peso molecular (enoxaparina) 30 mg duas vezes ao dia e o outro grupo recebeu AAS 81 mg duas vezes ao dia durante o internamento e, posteriormente, foi seguido o protocolo de tromboprofilaxia pós-alta hospitalar. Foram excluídos os seguintes pacientes: com fraturas das mãos e dos pés, os que já tinham recebido três ou mais doses de tromboprofilaxia, admitidos no hospital mais de 48h após a lesão, que se encontravam a tomar anticoagulante à admissão e os que tinham antecedentes de tromboembolismo venoso nos últimos 3 meses. O marcador (outcome) primário foi a mortalidade aos 90 dias. Tromboembolismo pulmonar não fatal, trombose venosa profunda e complicações hemorrágicas foram definidos como marcadores secundários.

Resultados: Foram incluídos um total de 12,211 pacientes, dos quais 6101 receberam AAS e 6110 receberam enoxaparina. A idade média dos participantes foi de 45 anos, 62% eram homens, sendo que 0,7% tinham história de tromboembolismo venoso e 2,5% tinham história de cancro. Os grupos eram semelhantes no início do ensaio. Durante o internamento cumpriram uma média de 9 doses de tromboprofilaxia e após a alta, em média, cumpriram 21 dias da mesma. A mortalidade aos 90 dias ocorreu em 47 pacientes (0,78%) no grupo AAS e em 45 pacientes (0,73%) no grupo enoxaparina (IC de 95% para a diferença de -0,27 a 0,38). Não houve diferença na probabilidade de embolia pulmonar (1,49% em cada grupo), mas houve ligeiramente mais tromboses venosas profundas no grupo da AAS (2,51% vs 1,71%; IC de 95% para a diferença 0,28 – 1,31; número necessário para dano = 125), embora a maioria do aumento tenha sido em coágulos distais. Também não houve diferença na taxa de complicações hemorrágicas, infeções ou complicações da ferida.

 Comentário: As diretrizes clínicas recomendam o uso de heparina de baixo peso molecular para tromboprofilaxia em pacientes com fraturas. Este estudo comparou a eficácia e segurança da AAS em baixa dose e da enoxaparina para prevenção de trombose em pacientes com fraturas. Foram incluídos mais de 12,000 pacientes e não houve diferença estatisticamente significativa entre os grupos na ocorrência de eventos tromboembólicos ou sangramentos graves. Assim, a AAS em baixa dose demonstrou não ser inferior à enoxaparina, além de ser mais barata e conveniente para o paciente. Pode, portanto, ser uma opção segura e eficaz para a prevenção de trombose após fraturas, sendo que a decisão de prescrição deve ser individualizada.

 

 

Artigo original: NEJM

Por Daniela Macedo Gomes, USF Serra da Lousã

 

 

 

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